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Os foliões, vadios pedidores com o descaramento.

A carta que a Câmara de Sabará enviou ao Conde Valadares relata este problema e, apresenta um outro: o aproveitamento por parte dos vadios dos benefícios advindos com a religião. Através dela, conseguiam perambular pela capitania, obtendo esmolas que eram gastas em atividades profanas.
“...Não obstante a Providência que para a pública utilidade foi sua Majestade servido dar com a proibição dos pedidores para quaisquer santos com caixinhas e oratórios portáteis. Se tem introduzido nestas minas a este respeito vários abusos bem prejudiciais ao público e abomináveis pelas ruins conseqüências que todos os dias se estão experimentando. Um deles é o costume de ser expedida de uma para outras freguesias uma bandeira com o título do Divino Espírito Santo acompanhada de 4 ou 5 homens a quem chamam foliões que para uma só festa que fazem em cada um ano correm por toda esta capitania e ainda pelos Sertões que podem chegar e são tantos os pedidores que muitas vezes em um só lugar se contam 4 e 5 bandeiras com aquelas companhias ou uma semana de diversos distritos ou freguesias. Para estas companhias ou para servirem de foliões só se procuram aqueles homens que por desocupados se podem reportar por vadios, os quais por algum ajuste ou de ordinário pelo interesse de certa parte das mesmas esmolas andam vagando por onde lhes parece e com o descaramento de desconhecidos em qualquer terra fazem muitos distúrbios, e despendem as esmolas que tiram em usos profanos e excessivos absurdos e que parece se evitaria se ao menos os tais pedidores não fosse permitido saírem em tal diligência fora das suas freguesias...”1

Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.

Próximo Texto: O trabalho é uma vergonha para o homem livre.
Texto Anterior: Viver da caridade, furtos e jogos, no século XVIII.

1 Carta da Câmara de Sabará ao Conde Valadares, em 30.12.1769. Arquivo Conde de Valadares (Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos) Documentos. 116 18,3,6

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