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O coronelismo na antiga Carmo da Cachoeira.


Passando a integrar o Município de Varginha, durante vários anos desempenhou as funções de chefe político do município o Coronel João Urbano de Figueiredo, neto do Capitão-mor Manoel dos Reis e Silva e de D. Mariana Vilela do Espírito Santo e filho do Sr. Manoel dos Reis Silva Júnior e de D. Ana Generosa.

Como se encontrava no Brasil na época do "coronelismo" em que os chefes políticos exerciam a chefia dos partidos de maneira despótica, quase absoluta, o Coronel João Urbano não poderia ser uma exceção da regra; assim dispunha dos "capangas", sempre prontos a cumprirem suas ordens, quer se tratasse de surrar algum desafeto ou adversário político, ou eliminá-lo do número dos vivos.

Fazendo este comentário não pretendemos de modo nenhum ferir a memória daquele político cachoeirense, porque ele apenas seguia os costumes da época; nem se deve estranhar a energia com que os chefes políticos desempenhavam as suas funções, considerando-se que a brandura somente é possível quando se trata com um povo civilizado, o que não acontecia naqueles tempos, com muita razão chamado "do obscurantismo".

Rendendo uma homenagem ao Coronel João Urbano de Figueiredo, queremos afirmar, baseando em informações muito seguras que dele possuímos, que se tratava de pessoa honesta e justa e também que ele jamais tenha determinado que se matasse alguém, cisa raríssima na vida dos chefes políticos de então.

Foi durante a chefia do Coronel João Urbano que se desenrolou a célebre demanda entre a Matriz de Carmo da Cachoeira e os Senhores Gabriel Fachardo da Costa Junqueira e outros, em torno das terras doadas pelo Padre Belo e que se achavam em poder daqueles senhores.

Contratado pelo Coronel João Urbano, o grande advogado Dr. José Marcondes de Andrade Figueira, numa luta sem tréguas que durou anos, obteve finalmente expressiva vitória, conseguindo que a terras voltassem à posse da Capela de S. Bento. A sentença foi lavrada pelo então Juiz de Direito de Varginha, Dr. Francisco Carneiro Ribeiro da Luz.

Envelhecido ou talvez cansado, o Coronel João Urbano afastou-se da política, passando o cargo ao seu genro, Coronel Domingos Ribeiro de Rezende, que nele permaneceu até o golpe de 10 de novembro de 1937 quando implantado o Estado Novo que dominou nossa Pátria até 1946.

Comentários

Anônimo disse…
Um diálogo pós morte em: Carta aberta ao professor Wandico.

Professor Wanderley. O Projeto Partilha conhece, respeita e divulga seu trabalho, pelo muito que ele representa para a sociedade cachoeirense. Ao estudá-lo eleva-a e engrandece-a. E, como o senhor disse no decorrer da obras, o conteúdo dele, baseava-se no que o senhor sabia e conhecia. O Projeto Partilha, autorizado por sua família, fez uma visita a sua biblioteca, no ano de 2005. Em uma de suas pastas leu-se uma comunicação sua com o genealogista Ary Florenzano. Nela, o senhor tenta resolver uma dúvida: "Ary Florenzano, você sabe onde ficava o antigo cemitério?" Essa dúvida, certamente, não foi diluída, e como e senhor mesmo diz: "vou escrever aquilo que sei e aguardar (...)". O senhor viveu na mesma época que o Dr. José Bonifácio Maciel, irmão do Pe. Manoel Francisco Maciel, nascido em Baependi. Nos grandes e benéficos momentos de conversa com seu Antonio, ficamos sabendo o quanto ele lhe admirava e respeitava seus feitos. Não querendo pecar por omissão, colocaremos a forma de nosso entendimento pela divergência de opiniões, entre o senhor, e o Dr. José Bonifácio Maciel. Por dedução, entendemos ter havia aí um entendimento: cada um falaria de um local e, assim, a sociedade ficaria sabendo que o assunto estava sendo tratado e discutido. Homens delicados e de fino trato sabem como agir sem prejudicar a história. A questão era o local do antigo cemitério, que envolvia, inclusive o genealogista Ary Florenzano.
Bem, acordo firmado entre o professor Wanderley Ferreira de Rezende e Dr. Antonio Bonifácio Maciel, sai o registro do segundo, como tivemos a oportunidade de ler na página de ontem, deste meio de comunicação. Para o Projeto Partilha não há dúvidas: este texto teve a aprovação do nosso senhor, e vamos repetí-lo aqui:
"Mais tarde em 1780 (vejam que é a época em que Manoel Antonio Rates estava vivendo seus últimos dias ou meses de vida), Boa Vista pertencia ao capitão-mor, Manoel dos Reis Silva. Falecido, devia ser sepultado em Lavras do Funil (sede do Distrito), mas como os rios estavam cheios e o sepultamento deveria ser dentro do prazo para evitar a putrefação, foi sepultado na propriedade de uma família italiana ou espanhola chamada RATIS ou RATES. Construindo aí um cemitério que continuou sevindo de jazigo a todos que falecessem, em redor do qual foram construindo casas e mais tarde uma capelinha". ANTONIO BONIFÁCIO MACIEL. 1971.
Assim, professor Wandico, ficaram os dois registros. O senhor garantiu o acordo: dentro de sua biblioteca deixou o recado: tenho dúvidas. Gratidão por mais esta!!!
Bem, a visão do senhor Antonio esta embasada no trabalho desenvolvido pelo seu irmão, esse seu irmão, o Cônego Manoel Francisco Maciel era, segundo contam, pessoa séria e com certa rigidez. Gostava de tudo muito certo, e o pessoal o respeitava. Meio encabulado, um dia, um coroinha de nome JORGE FERNANDO VILELA, temendo reprimendas ousou uma pergunta ao padre: "Pe. Manoel, o que são esse poucos espaços afundados aqui no jardim da igreja? Pela forma retangular, parece que tem
gente enterrada aí. O senhor sabe alguma coisa?". O Padre desconversou, mas o menino pesquisador não se esquece daquilo que viu, e do qual não teve resposta. A terra de Carmo da Cachoeira guarda um arquivo inusitado, não é isso, professor WANDERLEY FERREIRA DE REZENDE?
Ao senhor e ao seu Antonio muita LUZ, em sua nova morada, no REINO DE DEUS. E, manda uma luzinha prá nós, será que dá?

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