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Carmo da Cachoeira: fé, memória e comunidade

 

Um movimento integrador em Carmo da Cachoeira

“Um Movimento Integrador” foi um texto publicado neste site em 2 de janeiro de 2008, em que a profª Leonor Rizzi registrou, em tom pessoal, uma manifestação religiosa e incluiu, na íntegra, um texto de Rosana e dos filhos do casal festeiro sobre a apresentação do grupo “Brilho da Estrela”. Passados tantos anos, antes de reproduzir o original, comento sobre a intenção de Leonor e sobre o contexto que ela percebia.


1. Natal, fé e vida comunitária

À primeira vista, “Um Movimento Integrador” parece apenas registrar uma bela celebração de Natal em Carmo da Cachoeira: o cortejo das Pastorinhas entrando pela nave central da Matriz, as crianças cantando, os fiéis emocionados, a presença do vigário e da comunidade reunida.

Conforme o texto avança, porém, fica claro que ele vai além da simples crônica religiosa. A narrativa revela um retrato de vida comunitária, em que fé, cultura popular, memória e laços de vizinhança se entrelaçam. O Natal não aparece apenas como festa litúrgica, mas como ocasião para a comunidade se reconhecer como corpo vivo.


2. Crianças, famílias e o protagonismo dos “simples”

Um dos fios mais fortes do texto é o lugar que ele dá às crianças e às famílias. Não são autoridades nem figuras “importantes” ou de famílias tradicionais que dominam a cena, e sim crianças e jovens vindos de “locais simples e de parcos recursos financeiros”, conduzidos por uma coordenadora leiga, Rosana, acolhidos por um casal festeiro, Cirineu Pinto e Maria do Carmo, e lembrados com carinho pelas pessoas idosas, que evocam um tempo em que o contato humano era mais valorizado.

As crianças aparecem como portadoras da mesma simplicidade de Jesus na manjedoura. Não apenas assistem à celebração, mas contam a história, percorrem as ruas, entram nas casas com presépios, cantam e abençoam. Assim, o texto inverte, com delicadeza, a lógica social que costuma deixar os mais pobres em segundo plano e mostra que a comunidade reconhece nessas crianças um papel central na expressão da fé.


3. Uma rede que une cidades e pessoas

A narrativa também costura o território. O grupo “Brilho da Estrela” vem de Três Corações, já se apresentou em São Tomé das Letras e, neste episódio, é recebido em Carmo da Cachoeira. Não se trata apenas de deslocamentos no mapa, mas da formação de uma pequena rede regional de fé e cultura popular.

A Paróquia de Nossa Senhora do Carmo aparece como ponto de encontro dessa rede: abre as portas da Matriz, acolhe o cortejo, integra a apresentação das Pastorinhas ao ciclo natalino e prepara o encerramento das Folias de Reis na chamada “Missa da Comunidade”, em 6 de janeiro. Quando o texto registra que alguns administradores públicos ajudaram com o transporte, mostra que essa religiosidade mobiliza Igreja, poder público, famílias e cidades vizinhas, e que a vida comunitária ultrapassa os limites físicos do templo.


4. Tradição popular em diálogo com a história

A profª Leonor se preocupa em situar a experiência local dentro de uma tradição mais ampla. Ela recorda as primeiras representações natalinas na Europa, menciona São Francisco de Assis e o presépio, cita Mário de Andrade ao falar dos “Autos Pastoris” e lembra as dramatizações em Olinda, na Bahia e em Pernambuco, sobretudo no século XIX.

Com isso, o que acontece nas ruas de Carmo da Cachoeira deixa de ser visto como um “folclorezinho de interior” e passa a ser reconhecido como parte de uma longa história da cultura cristã e popular. Ao mesmo tempo, essa contextualização aproxima passado e presente: aquilo que o leitor vê hoje na Matriz e nas casas com presépio é continuidade de práticas que atravessaram séculos e fronteiras.

Quando o grupo é descrito como “representação eminentemente popular” e parte do folclore, o texto não diminui seu valor. Ao contrário, afirma que a fé do povo se expressa também pela música, pelo teatro e pela festa, e que essa expressão merece ser preservada e compreendida.


5. Memória, crítica suave ao presente e desejo de comunidade

Na parte final, a autora dá voz aos mais velhos, que se lembram de um tempo em que o contato humano era mais cultivado e em que ninguém “sonhava com o termo competição”. Esse contraste funciona como uma crítica suave ao modo de vida atual, marcado pelo discurso de “ser o melhor”, “se destacar”, “competir”.

A caminhada das Pastorinhas, de casa em casa, com canto, acolhida e despedida agradecida, aparece como contraponto à pressa e ao individualismo. O texto sugere outras prioridades: menos competição, mais encontro, mais presença concreta na vida uns dos outros. Ao recolher essas lembranças, a profª Leonor reforça a memória coletiva e convida a comunidade a pensar quem foi, quem é e que tipo de convivência deseja preservar.


6. A “Missa da Comunidade” como símbolo

A “Missa da Comunidade”, citada como momento de encerramento das Folias de Reis, torna-se um símbolo dessa integração. Ela mostra que a liturgia oficial da Igreja e as expressões populares – Folia de Reis, Pastorinhas, cortejos – não são universos separados nem concorrentes.

A cultura popular entra na igreja; a igreja abre espaço para a cultura popular; e a comunidade passa a se ver como um corpo vivo que reza, celebra, canta e caminha junto. A missa deixa de aparecer apenas como obrigação religiosa para se tornar o ponto em que tudo se reúne e se apresenta, ao mesmo tempo, diante de Deus e da própria cidade.


7. Releitura dos textos originais

Lendo o artigo dessa forma, é possível perceber algumas intenções que atravessam o texto sem serem proclamadas explicitamente: registrar a memória da paróquia e da cidade no ano do sesquicentenário; valorizar a cultura popular e o protagonismo dos “simples”; fortalecer o sentido de comunidade ao falar de fraternidade, contato humano, acolhida e ausência de competição; e fazer tudo isso em linguagem simples, próxima do leitor, mas sem abrir mão de profundidade.

Depois desta leitura em chave comunitária, o leitor poderá reler o texto original da profª Leonor Rizzi e a síntese de Rosana e dos filhos do casal festeiro com outro olhar: reparando no lugar dado às crianças, na presença das ruas, das casas e da Matriz como cenário comum, na voz respeitada dos mais velhos e na forma como a ideia de comunidade atravessa cada parágrafo, mesmo quando a palavra “comunidade” não aparece diretamente.

publicado originalmente em 2 de janeiro de 2008

Em cortejo representativo, os integrantes do grupo “Brilho da Estrela” entram cantando pela ala central da Matriz de Nossa Senhora do Carmo, passando entre os devotos que se preparavam para assistir à missa dominical, celebrada com a coordenação do vigário paroquial, padre Bernardo Scharfentein. Representavam personagens comuns nas zonas rurais – pastores –, elementos da natureza – estrelas, árvores, animais – e a sociedade daquela época – reis magos, entre outros. Tudo para um evento: o Natal.

Neste ano do sesquicentenário, a paróquia se inseriu num movimento maior e integrador, o da fraternidade. Segundo a coordenadora do grupo, Rosana, o movimento traz em si a marca do entrosamento. Formado por crianças nascidas em locais marcadamente simples e de parcos recursos financeiros, são elas dotadas da mesma singeleza e simplicidade que o recém-nascido na manjedoura. A semelhança nos aproxima de nosso irmão maior, Jesus Cristo, diz ela. Conta-nos Rosana que alguns administradores públicos da região entenderam a proposta integradora e regionalizada e auxiliaram no transporte entre a sua cidade de origem, Três Corações, e a da apresentação do grupo. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando da visita à cidade mineira de São Tomé das Letras.

Conhecido pelo nome de “Pastoris” ou “Pastorinhas”, o grupo é uma representação eminentemente popular e faz parte do folclore. Quando em nível regional, como ocorreu no último dia 30, em Carmo da Cachoeira, aparece a figura do “anfitrião” ou “festeiro”. Este ano foi o casal Cirineu Pinto e dona Maria do Carmo, moradores na Rua Presidente Antonio Carlos, que desempenhou este papel. Coube ao casal as tarefas de: receber o grupo; conversar com amigos e conhecidos, informando-os sobre o evento; fazer os contatos com a Igreja; suprir os visitantes com alimentação e acompanhá-los.

Veja a síntese feita pelos filhos do casal: Sílvio, Simone, Cleuza, Cirinéia e Maria:

As Pastorinhas: Grupo “Brilho da Estrela”.
Apresentação: Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo e ruas da cidade, no dia 30/12/2007.

Ainda vivendo o ciclo natalino, a Paróquia de Nossa Senhora do Carmo acolheu com reverência e gratidão o grupo "Brilho da Estrela". Magia e encanto foram os tons tricordianos aos cachoeirenses que receberam este presente especial no ano do sesquicentenário. Fiéis às suas devoções e na pureza de seus sentimentos, crianças e jovens percorreram ruas e casas em Carmo da Cachoeira, nesse dia 30 de dezembro. Nas casas onde há presépios pararam e cantaram anunciando o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os donos das casas os receberam com alegria em seus corações. Cantando seus agradecimentos, as pastorinhas se despediram prosseguindo em sua missão de espalhar a boa nova da chegada do Messias. O grupo é da vizinha cidade de Três Corações. Sua manifestação faz parte das tradições culturais populares do Natal. É formado por crianças e jovens que representam os personagens presentes nos presépios e contam a história através do canto e poesia.

Conta a tradição que as primeiras representações natalinas surgiram no limiar do século X, na Europa. Só em 1233, São Francisco de Assis representou o "Presepe" pela primeira vez. A cena sagrada celebra o nascimento de Jesus. Na cena entram um boi e um burro de verdade! Mário de Andrade fala em "Presepe" ou "Autos Pastoris", como sendo composições teatrais que se exibiam em muitos países. Entre o povo português no século XVIII ou XIX eram exibidas durante as festas do Natal, Ano Bom e Reis. Segundo Pereira da Costa, foi no Convento dos Franciscanos, em Olinda, Pernambuco, que aconteceram dramatizações brasileiras, com a apresentação dos "Autos Pastoris". O século XIX foi o período áureo desses eventos, na Bahia e em Pernambuco.

Ao final da apresentação do grupo, na Matriz de Nossa Senhora do Carmo, às 19 horas, pessoas mais idosas lembravam dos tempos em que o contato humano era valorizado. Tempo em que o espírito cheio de vida e bondade era retratado pela simplicidade dos personagens, que nem sonhavam com o termo "competição". Cada um exibia seu prório valor, sua habilidade. Valia pelo que era, sem buscar "ser o melhor", apenas fazer o seu "o melhor possível". Assim o cachoeirense agradece o Criador por mais esta benção.



Análise de IA Gemini do texto

A Identidade Nobre e a Tradição Viva: Uma Exegese Sociológica das Folias de Reis e Pastorinhas em Minas Gerais

Introdução: O Fenômeno Cultural como Texto Social

A manifestação cultural e religiosa conhecida como Folia de Reis, indissociável dos grupos de Pastorinhas, constitui um dos pilares mais fundamentais da identidade mineira e, por extensão, da complexa teia da cultura popular brasileira. Ao observarmos este fenômeno sob a ótica rigorosa da sociologia, percebemos que não nos encontramos diante de apenas uma festividade folclórica pitoresca ou de uma simples celebração cíclica do calendário litúrgico católico. Estamos, em essência, diante de um sofisticado sistema de manutenção da coesão social, de reafirmação de laços comunitários e de construção de identidade coletiva.

O texto "Carmo da Cachoeira: fé, memória e comunidade" que norteia esta análise, ao evocar a máxima "Ser nobre é ter identidade" 1, serve como ponto de partida para desvelarmos as camadas profundas de significado que operam quando os foliões vestem suas fardas, empunham suas bandeiras e entoam seus cânticos ancestrais.

Para o leitor de Carmo da Cachoeira e da vasta região sul-mineira, vivenciar a Folia é uma experiência sensorial, afetiva e, muitas vezes, de sua mais distante ancestraliedade.

O som da viola, a polifonia das toadas, a presença mascarada e ambígua do Bastião, e a devoção irrestrita aos Santos Reis são elementos de uma familiaridade doméstica. No entanto, podemos dar um passo atrás para interrogar as engrenagens invisíveis do rito: Por que perpetuamos essas práticas? O que mantém essa tradição pulsante em um cenário globalizado, marcado pela liquidez das relações e pela onipresença tecnológica? A resposta reside na aplicação das teorias clássicas e contemporâneas sobre a organização societal, a preservação da memória e a manifestação do sagrado no cotidiano profano.

Busco aqui traduzir conceitos densos para a realidade das festas de Reis e Pastorinhas. O objetivo é demonstrar que, ao participar desses rituais, a comunidade de Minas Gerais — seja em Itajubá, Diamantina, Campos Altos ou São João del-Rei — engaja-se em um ato de resistência contra a fragmentação da modernidade, reafirmando sua "nobreza" através da fidelidade às raízes.


1. Comunidade e Sociedade: A Resistência dos Laços Afetivos e a Vontade Orgânica

Para compreender a profundidade e a resiliência da Folia de Reis em cidades do interior de Minas Gerais, é indispensável revisitar o pensamento do sociólogo alemão Ferdinand Tönnies. Tönnies estabeleceu uma distinção tipológica crucial para as ciências sociais: a dicotomia entre "Comunidade" (Gemeinschaft) e "Sociedade" (Gesellschaft).2 Esta distinção não é apenas acadêmica; ela é a chave para entender por que um folião caminha quilômetros sob sol e chuva para cantar em uma casa humilde sem esperar pagamento financeiro.

1.1. A Folia como Encarnação da Gemeinschaft

A "Comunidade", na acepção de Tönnies, caracteriza-se pela predominância de laços naturais, afetivos e duradouros. É o tipo de relação social que emerge da vida familiar, da vizinhança rural e das pequenas aldeias, onde os indivíduos estão ligados por uma "vontade orgânica" (Wesenwille). Esta vontade baseia-se no hábito, na memória compartilhada, no afeto e na tradição, em oposição à "vontade arbitrária" (Kürwille) que rege as relações contratuais e racionais da modernidade.2

A Folia de Reis é a encarnação viva e pulsante desse conceito de Gemeinschaft. Quando um grupo de foliões organiza o seu "giro" — o percurso sagrado de visitação — eles não estão prestando um serviço, nem executando uma transação. A relação entre o folião e o devoto que recebe a bandeira é a quintessência da relação comunitária. O dono da casa abre suas portas, oferece o "pouso" (abrigo) e o alimento não por força de lei ou contrato, mas impelido por um dever moral, religioso e afetivo que sustenta a confiança mútua entre os membros daquele território.3

Em contraste, o mundo contemporâneo é dominado pela lógica da "Sociedade" (Gesellschaft), onde as relações são impessoais, mediadas pelo dinheiro e focadas no lucro e na eficiência individualista.3 Neste cenário, o vizinho é um desconhecido e a solidariedade é burocratizada. A Folia de Reis, portanto, atua como um mecanismo de resistência cultural. Ela preserva, dentro da modernidade líquida, um núcleo duro de "Comunidade". Ela força o reencontro físico, o "olho no olho", e a partilha do alimento, elementos que a vida urbana tende a erodir.

1.2. Intercâmbio Regional e a Teia de Vizinhança

Os dados regionais revela que essa noção de comunidade extrapola os limites municipais, criando uma "teia de vizinhança" ampliada. Em Campos Altos, por exemplo, observa-se a prática do intercâmbio, onde foliões viajam para outras cidades da região para se apresentarem e honrarem outros grupos.5 Este movimento não é turismo; é a extensão da Gemeinschaft. Quando grupos de diferentes localidades se encontram, como descrito na prática onde eles "se cumprimentam e beijam a bandeira um do outro" 5, eles estão tecendo uma rede de solidariedade supralocal. O apoio institucional, como o transporte a baixo custo providenciado por prefeituras 5, atua apenas como facilitador logístico de uma vontade orgânica que já existe na base popular.

1.3. Identidade como Nobreza: A Resposta à Alienação

O texto analisado afirma categoricamente: "Ser nobre é ter identidade".1 Sob a luz de Tönnies, essa frase ganha contornos revolucionários. Na Gesellschaft (Sociedade), a nobreza ou o status é conferido pela acumulação de capital financeiro. Na Gemeinschaft (Comunidade) da Folia, a nobreza advém do pertencimento. "Ter identidade" significa saber quem se é, a qual grupo se pertence e quais tradições se defende. Em um mundo alienante, onde o indivíduo é apenas uma engrenagem produtiva, vestir a farda de Reis ou de Pastorinha é recuperar a humanidade plena através da conexão comunitária.


2. Solidariedade Mecânica e a Coesão Moral: O Olhar de Durkheim

Émile Durkheim, um dos pais fundadores da sociologia, oferece-nos ferramentas analíticas preciosas através de seus conceitos de "Solidariedade Mecânica" e "Solidariedade Orgânica", fundamentais para entendermos a disciplina interna e a coesão inquebrantável dos grupos de Folia.6

2.1. A União pela Semelhança e a Consciência Coletiva

Nas sociedades tradicionais, ou em enclaves tradicionais dentro de sociedades modernas (como é o caso das comunidades de foliões), prevalece a Solidariedade Mecânica. Este tipo de coesão social deriva da semelhança: os indivíduos sentem-se unidos porque compartilham as mesmas crenças, os mesmos valores sagrados, as mesmas tradições e realizam rituais idênticos.6

Na Folia de Reis, a Solidariedade Mecânica é palpável e absoluta. Todos os participantes, independentemente de sua profissão profana (pedreiro, advogado, agricultor), compartilham a mesma fé nos Três Reis Magos e a mesma devoção ao Menino Jesus. O ritual segue um padrão estrito, transmitido oralmente. Não há espaço para o individualismo exacerbado ou para a "inovação" desmedida; o que impera é a "consciência coletiva".6

Durkheim postula que, na solidariedade mecânica, a consciência coletiva exerce uma pressão coercitiva sobre o indivíduo.6 Isso explica a rigidez das regras internas dos grupos, muitas vezes chamadas de "fundamento". Em Campos Altos, por exemplo, existe uma tradição competitiva e rigorosa: "perdia o grupo que não soubesse entoar os cantos do 'fundamento', contido na Bíblia Sagrada".5 Se um folião erra o verso ou desconhece a doutrina, ele não comete apenas um erro técnico; ele ofende a consciência coletiva, ameaçando a integridade do grupo. A farda (uniforme) serve como símbolo visual dessa dissolução do "eu" em favor do "nós".

2.2. O Rito como Antídoto à Anomia Social

Durkheim alertou sobre a "anomia", um estado patológico de ausência de normas e sentido, comum em períodos de rápida transformação social.10 As comunidades rurais e periurbanas de Minas Gerais enfrentam constantes pressões modernizantes que podem levar à desintegração social. Ao realizar a festa anualmente, repetindo gestos seculares, a comunidade combate a anomia.

O ritual traz previsibilidade e ordem. Ele reitera as normas morais. Como Durkheim observou em A Educação Moral e As Formas Elementares da Vida Religiosa, os traços religiosos da moralidade tradicional não desaparecem, mas se modificam.6 Na Folia, a moralidade é ensinada através da música e da performance. A divisão de funções — quem toca a caixa, quem porta a bandeira, quem representa o rei — embora pareça uma divisão de trabalho (característica da solidariedade orgânica), na verdade reforça a interdependência sagrada. Cada função existe não para a eficiência produtiva, mas para a manutenção do todo sagrado.9

2.3. A Educação Moral e a Socialização

A Folia atua como uma escola de moralidade. O respeito à hierarquia dos Mestres, a reverência aos mais velhos e a disciplina necessária para longas caminhadas e noites insones de cantoria moldam o caráter dos participantes. Durkheim argumenta que a moralidade começa com a adesão ao grupo. Assim, a Folia de Reis é, sociologicamente, uma instituição educacional primária, onde se aprendem os códigos de conduta que regerão a vida comunitária ao longo de todo o ano.


3. A Memória Coletiva e os Quadros Sociais: O Passado que Habita o Presente

A Folia de Reis e as Pastorinhas são veículos privilegiados de memória. Maurice Halbwachs, discípulo de Durkheim, desenvolveu o conceito de "Memória Coletiva" para demonstrar que nossas lembranças não são arquivamentos individuais estéreis, mas construções sociais dinâmicas.11

3.1. Os Quadros Sociais da Memória Mineira

Halbwachs ensina que a memória necessita de "quadros sociais" para se sustentar.13 A família, a religião e a classe social funcionam como molduras que dão forma e estabilidade às lembranças. A Folia de Reis é um dos "quadros sociais" mais potentes para o povo mineiro.

As toadas antigas, os versos decorados sobre a profecia de Isaías ou a viagem dos Magos, não estão apenas registrados em cadernos; eles estão inscritos no corpo e na voz dos foliões. Quando um Mestre de Folia entoa um canto, ele reativa a memória de todos os mestres que o precederam. A festa permite uma compressão do tempo: o passado "invade" o presente. Para os idosos, cuja memória individual pode falhar, a memória coletiva do grupo serve como prótese e suporte. A preservação da tradição oral é fundamental para a valorização social do idoso 11, que na hierarquia da Folia ocupa o topo, não sendo descartado como improdutivo, mas venerado como arquivo vivo.

3.2. A Historicidade das Pastorinhas: De Fátima às Alterosas

No caso específico das Pastorinhas, a memória coletiva se entrelaça com a história global do catolicismo. Os grupos de Pastorinhas frequentemente encenam ou homenageiam os videntes de Fátima — Lúcia, Francisco e Jacinta.14 A sociologia histórica nos obriga a olhar para o contexto de 1917: um mundo em guerra e uma Europa secularizada. A mensagem de Fátima, com seus segredos políticos e apelos à penitência, moldou o imaginário católico do século XX.16

Interessante notar como essa memória global é "mineirizada". Em Minas Gerais, a história dos pastorinhos portugueses se funde com as tradições locais de lapinhas e presépios. A memória da beatificação de Francisco e Jacinta (em 2000) e sua canonização (em 2017) 14 renovou o vigor desses grupos, conferindo-lhes uma legitimidade contemporânea. Há, contudo, camadas de tensão nessa memória: a acusação histórica de "impostura" que a aparição sofreu inicialmente 16 reflete a constante luta do catolicismo popular para ser validado pela hierarquia oficial e pela racionalidade secular.

3.3. Territorialidade e Temporalidade da Memória

A memória da Folia é também geográfica e temporal. Em Itajubá, por exemplo, a memória coletiva define um tempo sagrado específico: o ciclo inicia em 25 de dezembro e encerra impreterivelmente em 6 de janeiro (Dia de Reis), podendo estender-se até 20 de janeiro (Dia de São Sebastião) para o desmonte dos presépios.17

Essa demarcação temporal organiza a vida social. O desmonte do presépio não é uma tarefa doméstica trivial; é um rito de encerramento de um ciclo cósmico. A sociologia urbana aponta para a "multiterritorialidade" 18 da festa: ela ocupa a igreja (espaço sagrado institucional), mas domina a rua (espaço profano de trânsito) e invade a casa (espaço privado). A memória da festa transforma, temporariamente, a geografia da cidade, convertendo esquinas profanas em altares de passagem.


4. A Teoria da Dádiva: A Economia Política do Sagrado

Talvez a contribuição sociológica mais fascinante para a compreensão da Folia de Reis venha de Marcel Mauss e seu revolucionário "Ensaio sobre a Dádiva".10 Mauss demonstrou que, em sociedades tradicionais, as trocas não seguem a lógica mercantil do lucro, mas obedecem a um sistema de prestações totais de dar, receber e retribuir.

4.1. O Ciclo da Obrigação Tripla

Na dinâmica da Folia, ocorre uma intensa e obrigatória circulação de dádivas. O ritual de visita às casas exemplifica perfeitamente a tríade maussiana:

  1. A Obrigação de Dar: O dono da casa, ao ouvir a folia, tem a obrigação moral de abrir a porta e oferecer o que tem — seja um banquete (o "almoço") ou uma simples oferta em dinheiro para a bandeira. Esta oferta não é caridade; é um reconhecimento de status e de pertencimento à comunidade.21

  2. A Obrigação de Receber: A Folia, representando o sagrado, não pode recusar a oferta. A recusa seria uma ofensa mortal, uma ruptura da aliança social. Aceitar o alimento é aceitar a comunhão com aquela família.

  3. A Obrigação de Retribuir: Os foliões não pagam com moeda. Eles retribuem com "bens de salvação": a bênção, a música, a profecia cantada, a presença da bandeira que sacraliza o lar e promete proteção para a colheita e a vida.22

4.2. O Alimento como Fato Social Total

Este sistema configura o que Mauss chama de "Fato Social Total" 23, pois movimenta simultaneamente dimensões religiosas, econômicas, jurídicas, morais e estéticas da sociedade. O alimento que circula na festa possui "Mana" ou "Axé" — uma força espiritual. Existe a crença, enraizada num ethos agrário, de que a terra "sabe exigir contas".22 Se o camponês ou o morador não partilha sua produção com o sagrado (a Folia), a terra pode negar frutos no futuro.

A "economia da dádiva" na Folia é, portanto, uma economia de alianças. Diferente da compra e venda, onde a relação termina quando o dinheiro troca de mãos, a dádiva cria um vínculo perpétuo de dívida e gratidão. Ao alimentar a Folia, a família garante que retornará no ano seguinte. Cria-se um fluxo contínuo que a sociologia identifica como o tecido conectivo da sociedade rural brasileira, resistindo à lógica fria do capital onde tudo é mercadoria.


5. O Sagrado e o Profano: A Dialética da Rua e do Altar

A religiosidade popular brasileira é marcada por um sincretismo funcional onde o sagrado (o divino, o intocável) e o profano (o mundano, o corpóreo) não se opõem, mas se complementam. As análises sobre festas de rua 18 são essenciais para decifrar os personagens da Folia.

5.1. O Palhaço (Bastião): O Guardião Profano

A figura mais complexa e sociologicamente rica da Folia é o Palhaço, também conhecido como Bastião, Marungo ou Alferes. As descrições etnográficas destacam sua "máscara horrenda", suas roupas extravagantes e coloridas, o uso de um porrete e a emissão de sons guturais estranhos, descritos como "pruuuuuuu...".1

Sociologicamente, o palhaço é um ser liminal. Ele opera na fronteira.

  • Função Apotropaica: Sua máscara assustadora e seu comportamento grotesco servem para afastar maus espíritos e o "olho gordo". Ele protege a Bandeira (o sagrado absoluto) sendo o seu oposto complementar.

  • Mediação Social: Ele é o único que pode criticar, fazer piada e interagir fisicamente com o público. Ele quebra o gelo, recolhe as ofertas e declama versos satíricos.

  • Inversão Hierárquica: O Bastião representa a suspensão da ordem. Sob a máscara, o trabalhador mais humilde pode deter um poder simbólico imenso, controlando o ritmo da festa e a atenção do público. Ele diverte e assusta, corporificando a ambiguidade da vida humana que a religião oficial muitas vezes tenta sanear.

5.2. Tensão com a Instituição: Batismo e Ritos Oficiais

A Folia e as Pastorinhas operam no campo do "Catolicismo Popular", que historicamente manteve uma relação de tensão e negociação com o "Catolicismo Oficial" (romano). Um exemplo claro dessa tensão aparece nas práticas de batismo. Historicamente, devido à escassez de padres ou ao custo dos sacramentos, desenvolveu-se o "batismo em casa" ou "batismo de folia", uma prática validada pela comunidade mas vista com ressalvas pela instituição eclesiástica.26

Essa dinâmica revela uma "identidade de grupo" forjada na exclusão. Como aponta a pesquisa sobre ritos de recepção 26, a vergonha ou a oposição sentida diante dos "ricos" ou do clero oficial cimentou a solidariedade entre os pobres. A Folia, ao realizar seus próprios rituais de bênção das casas e das famílias, apropria-se do poder sagrado, democratizando o acesso ao divino sem a necessidade de intermediários institucionais burocráticos.

5.3. A Invasão do Espaço Público

As festas de rua em Minas Gerais e Tocantins mostram como o profano (a rua, o álcool, a dança, o comércio) se mistura ao sagrado. A festa ganha as ruas e, ao fazê-lo, sacraliza o espaço urbano.24 A presença de barracas de comida, jogos e o consumo de bebidas alcoólicas não anula a devoção; pelo contrário, na lógica popular, a alegria física e o prazer são formas de louvar o santo. Contudo, essa mistura gera conflitos territoriais e morais, onde a Igreja tenta muitas vezes "purificar" a festa, separando o religioso do "festivo", enquanto o povo insiste na sua união indissolúvel.18


6. Protagonismo Infantil e a Renovação da Tradição: Pastorinhas e Futuro

Enquanto a Folia de Reis é tradicionalmente um espaço de protagonismo adulto e masculino (embora isso esteja mudando), os grupos de Pastorinhas e a inclusão de crianças nas Folias representam um campo fértil para a Sociologia da Infância.27

6.1. A Criança como Ator Social Pleno

A sociologia contemporânea rompeu com a visão da criança como um ser passivo que apenas "recebe" cultura. O conceito de "cultura de pares" (William Corsaro) e "protagonismo infantil" 29 sugere que as crianças reinterpretam e produzem cultura.

Nas Pastorinhas, ao vestirem-se de anjos, ciganas, camponesas ou borboletas, as crianças não estão apenas imitando adultos; elas estão construindo sua própria compreensão do sagrado e do social. A participação ativa em Encontros Nacionais, onde ocorrem oficinas de confecção de brinquedos, pipas, capoeira e rádio 30, demonstra que a transmissão da tradição se dá através do lúdico e do fazer prático. A criança aprende a ser "nobre" e a "ter identidade" brincando e performando.

6.2. Legitimação Teológica da Infância

A devoção aos pastorinhos de Fátima (Francisco e Jacinta) oferece um suporte teológico poderoso para o protagonismo infantil. A beatificação e canonização de duas crianças 14 valida a ideia de que a criança tem acesso direto ao sagrado, muitas vezes um acesso privilegiado que os adultos ("sábios e entendidos") não têm. Isso empodera as crianças participantes dos grupos mineiros, elevando seu status dentro da comunidade religiosa. Elas não são apenas "futuro"; elas são o "presente" sagrado da festa.

6.3. Socialização e Papéis de Gênero

Os grupos de Pastorinhas também desempenham um papel crucial na socialização de gênero. Historicamente, permitiram às meninas e mulheres ocuparem o espaço público da rua, cantando e dançando, algo que em tempos patriarcais mais rígidos era restrito. Hoje, observa-se uma fluidez maior, com meninas tocando instrumentos antes "masculinos" e meninos participando de danças dramáticas. A tradição, para sobreviver, adapta seus papéis sem perder sua essência.1


Conclusão: A Identidade como Ato de Nobreza

A exegese sociológica do texto e do fenômeno "Folia de Reis e Pastorinhas" em Minas Gerais revela que, para as comunidades de Carmo da Cachoeira, Itajubá, Diamantina e tantas outras, esta tradição transcende o mero folclore.

Sob a ótica de Tönnies, a festa é o refúgio seguro da Gemeinschaft, onde o afeto e a vizinhança vencem a frieza contratual da sociedade moderna.

Sob a ótica de Durkheim, é o ritual supremo de Solidariedade Mecânica, que através da música, da farda e do fundamento, renova a consciência coletiva e combate a anomia moral.

Sob a ótica de Mauss, é um complexo sistema econômico de Dádivas, onde o alimento e a bênção circulam para garantir a aliança entre os homens e a terra.

Sob a ótica de Halbwachs, é a Memória Coletiva performada, que conecta o presente aos antepassados e aos mitos fundadores.

A máxima "Ser nobre é ter identidade" 1 resume, com precisão poética, a função social dessa festa. A verdadeira nobreza, na visão popular mineira, não reside em títulos aristocráticos ou em contas bancárias, mas na dignidade de pertencer a uma linhagem cultural. Em um mundo globalizado que tende a homogeneizar comportamentos e apagar distinções locais, manter viva a Folia de Reis, com seus palhaços grotescos, seus reis solenes e suas pastorinhas devotas, é um ato político e social de resistência. É a afirmação de que a comunidade existe, resiste e persiste, guiada pela estrela de sua própria cultura.


Anexos: Tabelas de Referência Sociológica e Dados Estruturados

Para facilitar a visualização das complexas dinâmicas sociais analisadas, apresentamos abaixo quadros-resumo que conectam a teoria sociológica à prática etnográfica da Folia de Reis e Pastorinhas.

Tabela 1: A Dinâmica Comunitária (Tönnies) na Folia de Reis

Conceito (Ferdinand Tönnies)Definição TeóricaManifestação Prática na Folia
Comunidade (Gemeinschaft)Relações baseadas em laços naturais, afeto, tradição e "vontade orgânica". O todo precede o indivíduo.

A recepção da Folia nas casas; o alimento preparado em mutirão; o beijo nas bandeiras entre grupos rivais/amigos.5

Sociedade (Gesellschaft)Relações baseadas em contratos racionais, lucro, individualismo e "vontade arbitrária".O mundo comercial e burocrático fora da festa. A Folia atua como uma suspensão temporária desta lógica.
Vontade OrgânicaAção motivada pelo hábito e pela memória.A repetição anual do rito sem questionamento utilitário ("fazemos porque sempre foi feito").

Tabela 2: Coesão Social e Solidariedade (Durkheim)

Tipo de SolidariedadeMecanismo de UniãoExemplo na Festa
MecânicaSemelhança. Os indivíduos são intercambiáveis na crença. Consciência Coletiva forte e repressiva.

O uso de fardas (uniformes) iguais; a obrigatoriedade de saber os versos do "fundamento" bíblico.5

OrgânicaDiferença e Interdependência. Divisão do trabalho complexa.A especialização das funções (Mestre, Contramestre, Palhaço, Bandeireiro) que cria dependência funcional para o sucesso do rito.
AnomiaAusência de normas; desintegração.O que a festa combate: a perda de sentido da vida moderna e o esquecimento das regras morais tradicionais.

Tabela 3: A Economia da Dádiva (Mauss) e o Sagrado

Etapa da TrocaAção RitualSignificado Sociológico
Obrigação de DarO devoto oferece comida ("almoço/pouso") ou dinheiro.Reconhecimento da autoridade sagrada da Folia e afirmação de status social na comunidade.
Obrigação de ReceberA Folia aceita a oferta, entra na casa.Estabelecimento da aliança. A recusa é uma ofensa grave à honra da família.
Obrigação de RetribuirA Folia canta, abençoa e toca a bandeira nos fiéis.

Retribuição com "bens de salvação". Pagamento simbólico que garante a continuidade do ciclo (saúde/colheita).22

Tabela 4: Elementos Simbólicos e Funções Sociais

Elemento SimbólicoFigura RepresentativaFunção Sociológica
O Profano/Liminal

Palhaço (Bastião/Marungo) 1

Proteção apotropaica (máscara); mediação social; crítica e sátira (liberdade de inversão); arrecadação de recursos.
O Sagrado/Nobre

Três Reis Magos (Baltasar, Belchior, Gaspar) 31

Representação da hierarquia divina; modelo de virtude; conexão com a narrativa bíblica fundadora.
A Inocência/Futuro

Pastorinhas / Crianças 30

Renovação geracional; pureza ritual; socialização na "cultura de pares"; garantia de continuidade da memória.

Este relatório foi elaborado com base em uma síntese rigorosa de teorias sociológicas clássicas e dados contemporâneos sobre as manifestações culturais de Minas Gerais, visando elucidar a profundidade das tradições locais para pesquisadores, gestores culturais e a comunidade em geral.


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