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Tabela Cronológica 10 – de 1815 até 1821


Publicada em 15 de fevereiro de 2008 pela professora Leonor Rizzi, esta tabela acompanha um período curto em anos, mas denso em mudanças: é o momento em que o Brasil deixa de ser apenas colônia para integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815), vê a circulação do café avançar sobre Minas, assiste à transformação de capitanias em províncias e presencia o retorno da Corte a Lisboa. Enquanto os livros de história contam esse processo em linhas gerais, aqui o movimento é visto através de lupa: nomes de fazendas, vilas recém-instaladas, estradas requisitadas, inventários, listas de moradores e decisões administrativas que moldam o sul de Minas.

Talvez por isso esta tenha se tornado, ao longo dos anos, a tabela mais procurada no site, foram 66.800 acessos: nela se cruzam a visão macro da política imperial e os detalhes concretos de lugares como Campo Lindo, Ponte Falsa, Serra do Carmo da Cachoeira, Varginha ainda chamada Espírito Santo das Catanduvas. O que em manuais surge como reinado de D. João VI e reorganização do império, aqui se desdobra em capitães de ordenanças, fazendeiros pedindo licença para abrir caminhos, padres que deixam capelanias, famílias dividindo bens.

O trabalho de pesquisadoras e pesquisadores locais, como o realizado pela profª. Leonor, cumpre justamente essa função: tomar documentos dispersos em cartórios, paróquias, listas fiscais e memórias familiares e devolvê-los à comunidade em forma de narrativa. Ao lado da cronologia “oficial”, esses dados completam o quadro, permitem que quem vive hoje em Carmo da Cachoeira e região reconheça sobrenomes, territórios, devoções e conflitos e perceba que a história do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves não está apenas nos palácios, mas também nos terreiros, estradas e fazendas que aparecem linha a linha neste quadro.


Tabela 10 - Elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves

1815

1816

  • 1816–1826 – reinado de Dom João VI. Após a Independência, em 1822, D. João VI assumiu a qualidade e dignidade de imperador titular do Brasil de jure, abdicando simultaneamente dessa coroa em favor de seu filho Dom Pedro I.

  • Miguel Antônio Rates declarou que pretendia mudar-se para a paragem do Mandu.

1817

1818

1819

1820

  • 18 de dezembro – na paragem da Ponte Falsa, em uma partilha amigável de bens, aparecem as fazendas Chamusca e Rio Grande, e partes das fazendas Palmital e Caxambu;

  • o café chegou a Minas;

  • o povoado de Varginha era conhecido por Espírito Santo das Catanduvas e possuía seis casas e alguns ranchos; e

  • no inventário de Antônio Dias de Gouveia, constavam como bens o terreiro e a fazenda Chamusca.

1821

  • 28 de fevereiro – Minas Gerais tornou-se província;

  • houve o retorno da Corte portuguesa a Portugal; e

  • morreu José Joaquim Gomes Branquinho, da fazenda Boa Vista, sede do distrito de Carmo da Boa Vista. Em seu inventário, afirmou ser devoto de Nossa Senhora do Carmo e lhe deixou 100$000 para suas obras.


Análise pela IA Gemini do artigo: Tabela Cronológica 10 – de 1815 até 1821


A Metamorfose do Sertão: Uma Análise Historiográfica e Sociológica Crítica da Formação de Carmo da Cachoeira (1815–1900)

Introdução: O Desafio da Micro-História em Contexto Nacional

A historiografia local brasileira, frequentemente sedimentada em crônicas memorialistas e tradições orais, tende a operar sob uma lógica de isolamento romântico. As narrativas sobre a fundação de vilas e cidades no interior de Minas Gerais, como Carmo da Cachoeira, costumam ser tecidas em torno de atos heroicos individuais, milagres fundadores ou a benevolência de grandes patriarcas. Contudo, ao submetermos essas narrativas ao crivo metodológico da Nova História Política e da Sociologia Rural, e ao confrontá-las com a frieza documental dos inventários post-mortem, decretos régios e relatórios de viajantes naturalistas, emerge um panorama substancialmente distinto.

Este relatório propõe uma análise crítica da formação histórica e social da região de Carmo da Cachoeira, com foco no período crucial que se estende da Elevação do Brasil a Reino Unido (1815) até a consolidação da cafeicultura no final do século XIX. O objetivo central é desconstruir os mitos disseminados em redes digitais e genealogias amadoras, contrapondo-os a uma leitura rigorosa das fontes primárias e secundárias disponíeis, não implicando na simplificação dos fenômenos, mas na tradução da complexidade sociológica em uma narrativa fluida, capaz de revelar como o "micro" (a Ermida de Campo Lindo) dialogava tensamente com o "macro" (a Corte no Rio de Janeiro e as oscilações do mercado atlântico).

A tese central que permeia este documento é a de que Carmo da Cachoeira não nasceu de um vácuo bucólico, mas foi forjada na fronteira da violência institucionalizada das Ordenanças, na estratégia de sobrevivência das elites agrárias através do casamento entre membros das mesmas abastadas famílias, e na luta logística desesperada para vencer a barreira da Serra da Mantiqueira. A história da região é, em última análise, a história da integração dolorosa do Sul de Minas à economia-mundo capitalista, mediada pelo lombo de mulas e pela política do parentesco.


Capítulo I: O Ano de 1815 e a Geopolítica do Interior

Para compreender o que acontecia na então "Paragem" ou "Ermida" de Carmo da Cachoeira, é imperativo situar o observador no cenário geopolítico de 1815. A data não é um mero marco cronológico em uma linha do tempo local; ela representa um terremoto administrativo com epicentro no Rio de Janeiro e tremores secundários que sacudiram as estruturas de poder no interior da Capitania de Minas Gerais.

1.1. O Significado da Elevação a Reino Unido para a Periferia Mineira

Em 16 de dezembro de 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves.1 Sociologicamente, este ato jurídico transformou a relação entre a Coroa e os seus súditos no interior. Se antes a administração colonial via as Minas Gerais essencialmente como uma zona de extração fiscal (ouro), a presença da Corte no Rio de Janeiro (desde 1808) e a nova condição de Reino exigiam uma "interiorização da metrópole".

O governo de D. João VI precisava garantir não apenas o fluxo de impostos, mas a segurança territorial e o abastecimento da corte, cuja população explodira. A região do Sul de Minas, especificamente a Comarca do Rio das Mortes, deixou de ser apenas um caminho para o ouro e tornou-se o "celeiro" e a "zona de amortecimento" da capital.

Análise Crítica dos Dados:

Sites de genealogia e história local frequentemente citam 1815 apenas como o ano de nomeações militares locais. Contudo, a análise sociológica revela que essas nomeações faziam parte de um projeto maior de controle demográfico. A criação da Vila de Jacuí em 1815 e a reorganização das Ordenanças não foram "presentes" à população, mas mecanismos de estado para catalogar homens em idade militar e proprietários tributáveis.

1.2. O Vácuo de Poder e a Ascensão das Ordenanças

Na ausência de uma burocracia estatal profissional — não havia prefeitos, delegados ou juízes concursados em cada povoado —, a Coroa terceirizava o poder para a elite agrária local. É neste contexto que deve ser lida a nomeação do Capitão Manuel de Jesus Pereira.

Em 30 de janeiro de 1815, Manuel de Jesus Pereira foi nomeado comandante da Companhia de Ordenanças da Ermida de Campo Lindo.

Este dado, isolado, parece burocrático. Sociologicamente, ele é a chave de leitura da estrutura de poder local. As Ordenanças eram milícias territoriais não remuneradas. Ao nomear Pereira, o Estado reconhecia que ele já era o poder de fato na região. Ele detinha o monopólio da violência legítima: podia prender "vadios", recrutar jovens para guerras distantes (uma ferramenta poderosa de controle social contra famílias rivais ou pobres indesejáveis) e supervisionar a moralidade pública.

Estrutura de Poder (1815)Função OficialFunção Sociológica Real
Capitão-Mor (Comarca)Comandante militar regional.Árbitro das disputas entre clãs e elo com o Governador da Província.
Capitão de Ordenanças (Local)Recrutamento e ordem pública.Consolidação do poder fundiário; uso da milícia para proteção de patrimônio privado.
Juiz de ForaAplicação da lei régia.Frequentemente cooptado ou neutralizado pelas elites locais (poder local vs. poder central).
PárocoRegistro civil e salvação das almas.Agente de legitimação das hierarquias sociais através dos sacramentos (quem senta onde na igreja).

1.3. A Jurisdição Fluida: Lavras, Campanha e Rio das Mortes

A região de Carmo da Cachoeira, naquele momento, vivia uma identidade jurisdicional complexa. Pertencia eclesiástica e administrativamente a Lavras do Funil, que por sua vez respondia à Comarca do Rio das Mortes (sede em São João del Rei).

Essa subordinação a São João del Rei não era apenas formal. Os inventários mostram que a elite de Carmo mantinha casas na Vila de São João. Isso demonstra um padrão de "dupla residência" ou "absenteísmo estratégico": o patriarca vivia na fazenda para produzir, mas mantinha presença na vila para litigar, negociar e socializar. A ideia de um isolamento rural absoluto é, portanto, um mito. Havia um trânsito constante de papéis, processos e pessoas entre a "Ermida" e a "Vila".


Capítulo II: A Anatomia Econômica e Social da Elite Fundadora

A historiografia tradicional tende a tratar os fundadores como figuras estáticas. A análise dos inventários post-mortem de 1817 e 1821 permite-nos realizar uma autópsia social dessas figuras, revelando a base material de seu poder.

2.1. O Capitão Manuel de Jesus Pereira: O Patriarca do Campo Lindo

O inventário de Manuel de Jesus Pereira, aberto em 1817 na Fazenda Campo Lindo , desmente a noção de pobreza ou simplicidade extrema. Embora não tenha deixado testamento (o que sugere morte súbita ou confiança absoluta na sucessão legal), o detalhamento dos bens revela uma economia diversificada.

O que o inventário revela sobre a sociedade

  1. A Terra como Base: A "Fazenda cognominada o Campo Lindo" não era apenas uma unidade produtiva; era o território político do Capitão. O nome "Campo Lindo" sugere uma paisagem de pastagens naturais, típicas da região, propícias para a pecuária extensiva que sustentava a economia antes do café.

  2. Redes de Parentesco: Os herdeiros listados (Manoel, Maria Elena, José, etc.) e seus casamentos posteriores com as famílias Tavares Coimbra e Fernandes indicam a prática da endogamia de classe. Casar entre "iguais" (vizinhos de terra ou primos) era uma estratégia econômica vital para evitar a fragmentação do patrimônio. Em uma sociedade sem bancos e sem seguro, o parentesco era a única rede de seguridade social.

  3. Conexão Urbana: A posse de "uma morada de casas na Vila de São João del Rei na Rua da Prata" 5 é fundamental. A Rua da Prata era uma localização nobre. Isso coloca a elite de Carmo da Cachoeira em contato direto com o fluxo de ideias e mercadorias que circulava pela Estrada Real. Eles não eram caipiras isolados; eram agentes periféricos de um sistema urbano colonial.

2.2. O Clã Branquinho e a Fazenda Boa Vista

O inventário do Capitão José Joaquim Gomes Branquinho, falecido em 1821 , amplia essa visão. Sua propriedade, a Fazenda Boa Vista, avaliada em mais de seis contos de réis (uma fortuna considerável em terras para a época), vizinha à "Paragem da Ponte Falsa", coloca sua família no centro da logística regional.

A Estratégia Matrimonial dos Branquinho:

A lista de herdeiros e seus cônjuges 7 revela uma teia densa:

  • Jacinta Ponciana Branquinho c/ Capitão Joaquim Fernandes Ribeiro de Resende.

  • Maria das Dores Branquinho c/ Capitão José Alves de Figueiredo.

    Os sobrenomes Resende, Figueiredo, Reis e Branquinho repetem-se exaustivamente. Sociologicamente, isso configura uma oligarquia familiar. O poder político (cargos de Ordenanças e, posteriormente, Guarda Nacional) e o poder econômico (terras e escravos) circulavam dentro de um circuito fechado. Isso explica a estabilidade política da região e, paradoxalmente, a dificuldade de mobilidade social para forasteiros ou classes subalternas.

2.3. A Economia de Abastecimento: O Mito do Café Precoce

Um dos erros mais comuns em análises apressadas disponíveis na rede é projetar a riqueza do café para o início do século XIX no Sul de Minas. A documentação mostra um cenário diferente.

Entre 1815 e 1870, a região de Carmo da Cachoeira, Campanha e Baependi operava uma economia de abastecimento.

  • O Que se Produzia? Milho, feijão, toucinho (porcos), queijos e gado vacum.

  • Para Quem? Para o Rio de Janeiro (Corte) e para o Vale do Paraíba (que começava a plantar café e deixava de produzir comida).

  • O Papel do Sul de Minas: A região funcionava como a "barriga" do Império. Enquanto Vassouras e Valença (RJ) enriqueciam com a exportação de café, o Sul de Minas enriquecia vendendo a comida que alimentava os escravos e os barões fluminenses.

Tabela Comparativa: Economia Regional (1820 vs 1890)

Característica1815–1850 (Período da Formação)1880–1900 (Período da Transformação)
Produto PrincipalGado, Porcos, Milho, Mantimentos.Café (Início da expansão massiva).
Mão de ObraEscravidão doméstica e agropastoril.Escravidão final e transição para colonato/imigração (menor escala que SP).
LogísticaTropas de mulas, Estradas precárias (Picu).Chegada da Ferrovia (Minas & Rio), melhoria viária.
CapitalAcumulado na terra e no gado.Reinvestido das fazendas de gado para cafezais.

Capítulo III: O Espaço Sagrado e o Espaço Profano – A Sociologia da "Ermida"

A nomenclatura "Ermida de Campo Lindo" não é apenas um detalhe toponímico; ela encerra uma definição sociológica do povoamento. No Brasil colonial e imperial, o sagrado precedia o urbano.

3.1. A Privatização da Fé

Diferente das cidades modernas planejadas pelo Estado, os núcleos urbanos mineiros nasciam de atos privados de devoção que eram, simultaneamente, atos de colonização. Um fazendeiro construía uma capela (ermida) em suas terras para cumprir promessa ou para comodidade religiosa. Ao redor dessa capela, permitia que artesãos, ex-escravos e agregados construíssem ranchos.

Assim, a gênese de Carmo da Cachoeira é o "patrimônio do santo" doado por uma elite agrária. Isso significa que a cidade nasceu dentro da fazenda, sob a autoridade do fazendeiro. O padre, muitas vezes parente ou dependente do coronel local, reforçava essa autoridade.

3.2. A Lenda da Igreja de Costas: Uma Interpretação Sociológica

Há uma crença popular em Carmo da Cachoeira segundo a qual a cidade “não vai para a frente” porque a igreja matriz foi construída de costas para a entrada da cidade.

Em vez de descartar isso como superstição, o sociólogo deve lê-lo como um sintoma de desconforto com a modernidade.

  • A Explicação Histórica: Igrejas coloniais eram orientadas liturgicamente (altar para o leste) ou topograficamente (frente para o vale ou praça). Se a cidade cresceu na direção oposta (ao longo da estrada nova), a igreja "virou as costas".

  • A Metáfora Social: "Estar de costas para a entrada" simboliza uma comunidade voltada para si mesma, endógena, que resiste às influências externas. Pode representar a tensão entre a elite tradicional (que definiu o local da igreja) e a classe comercial que dependia do fluxo da estrada. A lenda é a narrativa do povo para explicar a estagnação econômica relativa em comparação com cidades vizinhas que se industrializaram mais rápido, como Varginha.


Capítulo IV: A Luta pelos Caminhos – A Estrada do Picu e a Integração Nacional

Se a terra era a base da riqueza, o caminho era a condição de sua realização. Entre 1815 e 1822, a grande batalha política do Sul de Minas não foi ideológica, mas logística: vencer a muralha da Serra da Mantiqueira.

4.1. O Contexto da Estrada do Picu (1818-1822)

Os documentos indicam que em 1818, fazendeiros de Campanha, Baependi e da região (incluindo as lideranças de Carmo, por extensão de interesses) requereram a abertura de uma nova estrada através da Garganta do Picu (atual Itamonte).

A autorização régia veio em 1819, e a estrada operou a partir da década de 1820.

Por que isso importa para Carmo da Cachoeira?

Antes do Picu, o escoamento para o Rio de Janeiro exigia rotas mais longas e fiscalizadas (Caminho Novo via Barbacena ou Caminho Velho via Paraty). A Estrada do Picu conectava o Sul de Minas diretamente ao Vale do Paraíba Paulista (Areias, Lorena) e Fluminense.

Isso criou um corredor de exportação para os porcos e o gado de Carmo da Cachoeira. A "Paragem da Ponte Falsa", vizinha à Fazenda Boa Vista, deve ser entendida como um nó nessa rede viária. "Ponte Falsa" sugere infraestrutura precária ou rota de contorno para evitar pedágios, indicando um fluxo comercial intenso e, por vezes, ilícito (contrabando de ouro em pó ou sonegação de impostos sobre animais).

4.2. A Tropa de Mulas como Vetor de Informação

Auguste de Saint-Hilaire, viajando pela região, descreve as "invernadas" — pastos onde o gado vindo do Sul descansava antes de seguir viagem. Carmo da Cachoeira era uma dessas zonas de invernada.

Isso trazia para a região não apenas dinheiro, mas informação. O tropeiro era o "jornal" do século XIX. As notícias da Revolução do Porto (1820), da Independência (1822) e das crises políticas chegavam ao Carmo no lombo das mulas. A região, portanto, estava integrada a um circuito de comunicação que conectava o Rio Grande do Sul a Sorocaba e ao Rio de Janeiro.


Capítulo V: O Cavalo como Tecnologia e Símbolo – Desconstruindo o Mito Mangalarga

A identidade de Carmo da Cachoeira e do Sul de Minas é indissociável do cavalo Mangalarga Marchador. Contudo, a análise dos dados exige uma separação entre a lenda nobiliárquica e a realidade zootécnica.

5.1. A Coudelaria Real e a Genética Vernácula

A narrativa popular atribui a origem da raça a um presente de D. João VI ou D. Pedro I a Gabriel Francisco Junqueira (Barão de Alfenas), um garanhão Alter Real da Coudelaria de Cachoeira do Campo (fundada em 1819).

Embora haja um fundo de verdade na introdução de sangue Alter, a sociologia da tecnologia rural sugere que o Mangalarga não foi uma "invenção" súbita, mas uma adaptação funcional.

  • O Problema: O relevo acidentado de Minas e as longas viagens exigiam um animal resistente e, crucialmente, cômodo (marchador, não trotador). O cavalo europeu puro era frequentemente inadequado para a lida diária na serra.

  • A Solução: Os fazendeiros da região, incluindo as famílias Reis e Junqueira (com ramificações em Carmo), cruzaram garanhões ibéricos com éguas crioulas selecionadas pela marcha.

5.2. O Cavalo como Capital Simbólico

Possuir bons cavalos tornou-se, para a elite de Carmo da Cachoeira, mais do que uma necessidade de transporte; tornou-se um marcador de status. A "Fazenda Chamusca" e outras propriedades dedicaram-se ao aprimoramento da raça.

No século XIX, o cavalo desempenhava o papel que o automóvel de luxo desempenha hoje. Chegar à missa ou à vila montado em um animal de marcha picada, com arreios de prata, era a demonstração pública de poder do Capitão de Ordenanças. Era a fusão da estética com a autoridade.


Capítulo VI: A Chegada Tardia do Café e a Transformação da Paisagem

A transição da economia de abastecimento para a economia cafeeira em Carmo da Cachoeira foi tardia e gradual, contrastando com a explosão imediata do Vale do Paraíba.

6.1. O "Delay" Estratégico (1870-1900)

Enquanto o Vale do Paraíba entrava em decadência devido ao esgotamento do solo e à proibição do tráfico de escravos (1850), o Sul de Minas mantinha suas terras relativamente preservadas pela pecuária.

Os dados mostram que a expansão significativa do café em municípios vizinhos como Campanha, Varginha e Três Pontas só ocorre com força nas décadas de 1880 e 1890.19

Em Carmo da Cachoeira, o café entrou aproveitando a infraestrutura de mão de obra e transporte já existente.

Análise de Dados de Produção:

Os relatórios fiscais indicam que, mesmo em 1883, fazendas em Três Pontas (região vizinha) ainda eram descritas como policultoras (milho, feijão, cana) com "alguns pés de café".19 Isso prova que o café, inicialmente, era uma cultura aditiva, não substitutiva. O fazendeiro plantava café, mas não deixava de criar porcos. Essa prudência econômica ("não colocar todos os ovos na mesma cesta") é uma característica cultural da elite mineira que a diferenciou da elite paulista, mais propensa ao risco e à monocultura radical.

6.2. O Impacto da Ferrovia

A inauguração da Estrada de Ferro Minas e Rio (1884) e ramais subsequentes alterou a gravidade econômica. As cidades que receberam estações (como Varginha) explodiram em crescimento. Carmo da Cachoeira, dependendo da sua conexão com a malha ferroviária e rodoviária, viu sua posição relativa se reacomodar. A lenda da igreja 11 ganha força nesse período: a sensação de que o "progresso" (o trem) passou ao largo ou não trouxe a transformação mágica esperada.


Conclusão: Carmo da Cachoeira como Espelho do Brasil Oitocentista

Ao concluir esta análise crítica, torna-se evidente que a história de Carmo da Cachoeira não pode ser contida em uma narrativa linear de progresso. Ela é marcada por ciclos de adaptação e resistência.

  1. Contrapondo a Rede: Diferente do que sugerem resumos turísticos, a região não era um refúgio isolado de paz, mas um nó estratégico de controle militar (Ordenanças) e fiscal (Barreiras/Estradas) do Império.

  2. A Visão Sociológica: A sociedade local foi estruturada sobre a posse da terra e a gestão do parentesco (Branquinhos, Junqueiras, Reis). O poder não emanava da lei escrita, mas da capacidade desses clãs de mobilizar violência (milícias) e capital (terras/escravos).

  3. Contraste Nacional: Enquanto o litoral se modernizava e o Vale do Paraíba vivia a vertigem e a queda do café, Carmo da Cachoeira seguiu um ritmo próprio, mais lento e conservador. Sua economia de abastecimento garantiu uma estabilidade que permitiu à elite local atravessar as turbulências do século XIX sem perder sua hegemonia.

A "Ermida de Campo Lindo" evoluiu para a cidade atual não por milagre, mas pela tenacidade de uma população que soube negociar sua posição entre as montanhas de Minas e as demandas da Corte. Entender Carmo da Cachoeira é, portanto, entender a mecânica profunda do Brasil agrário: uma terra onde o moderno (o café, o trem, o Reino Unido) sempre teve que pedir licença ao arcaico (a tradição, o compadrio, a ermida) para poder entrar.


Apêndice Técnico: Análise Detalhada de Fontes e Dados Contrastantes

Para conferir rigor acadêmico a este relatório, apresentamos abaixo a análise tabular dos dados conflitantes ou complementares encontrados nas fontes pesquisadas.

Tabela 1: Contraste de Narrativas Históricas

TemaNarrativa Comum / Web Análise Crítica Documental Implicação Sociológica
Origem Política (1815)Menção vaga à criação da vila ou paróquia.Nomeação específica de Comandante de Ordenanças (30/Jan/1815).Militarização do território antes da emancipação civil. O Estado chega primeiro como polícia, depois como serviço.
Estrutura EconômicaFoco no Café como identidade atemporal.Predominância de "Fazendas de Cultura" (mantimentos) e gado até 1880.A região financiou a cafeicultura alheia (RJ/SP) com comida antes de se tornar produtora.
InfraestruturaIsolamento geográfico natural.Luta política pela abertura da Estrada do Picu (req. 1818, aut. 1819).O isolamento não era natural, era um problema político a ser resolvido para acesso ao mercado consumidor (Rio).
Elite SocialFiguras idealizadas ("Barões").Rede de parentesco endogâmica (Branquinhos/Reis) revelada em inventários.O poder era familiar e corporativo, não individual. A riqueza incluía casas urbanas (São João del Rei), indicando cosmopolitismo relativo.

Tabela 2: A Evolução da Malha Viária e seu Impacto

PeríodoVia PrincipalConexão de Carmo da CachoeiraImpacto Econômico
Até 1818Caminho Velho / Caminhos de ContrabandoPrecária, via rotas secundárias.Economia fechada, subsistência, dificuldade de exportar excedentes.
1822–1880

Estrada do Picu 12

Conexão direta com Vale do Paraíba e Rio de Janeiro."Era de Ouro" do abastecimento. Exportação de mulas, porcos e gado. Consolidação da riqueza fundiária.
1884–1900Ferrovia (Minas & Rio)Indireta (dependência de estações em cidades vizinhas).Início da cafeicultura em larga escala. Reorientação do fluxo para as estações. Declínio das tropas de longa distância.

Esta análise técnica reforça a conclusão de que a geografia de Carmo da Cachoeira não foi um destino, mas uma construção social, alterada continuamente pela tecnologia (estradas, ferrovias) e pela ambição de seus habitantes.

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No próximo dia 28 de novembro , às 19 horas no Clube Tabajara, a Câmara Municipal de Carmo da Cachoeira prestará homenagem a Leonor Rizzi , por proposta da vereadora Maria Beatriz Reis Mendes (Bia) . É um reconhecimento merecido a quem, por anos, estimulou a cultura local, valorizou pessoas comuns e defendeu com convicção que arte, educação e fé são alicerces de uma vida comunitária saudável. Nada simboliza melhor esse legado do que o recital que, em 17 de dezembro de 2007 , silenciosamente transformou a noite cachoeirense na Igreja Nossa Senhora do Carmo . O recital e o silêncio que fala Durante 60 minutos , um público inteiro se manteve em atenção rara. Nem as crianças interromperam a escuta; o silêncio parecia parte da partitura. No alto do altar, duas andorinhas pousadas junto à cruz compunham uma imagem que Evando Pazini  registrou em vídeo e que muitos guardam na memória: música, arquitetura e natureza respirando no mesmo compasso. Ao fim, vieram as perguntas espontâneas:...

Escola Estadual "Pedro Mestre"

A pioneira Escola Estadual “Pedro Mestre” conta hoje, com 105 anos de existência, seu maior motivo de orgulho, foi ter acolhido em suas salas de aulas cachoeirenses ilustres como o Padre Antônio de Oliveira Godinho , Dr. General Genuíno Sant’Ana, seu sobrinho Padre Edgar Sant’Ana e tantos outros. A os seus ilustres professores Dona Nair, Dona Zuleica, Dona Hermínia, Dona Lourdes Galvão e muitas outras, o nosso eterno agradecimento, especialmente ao mestre que deu nome a esta instituição, o nosso saudoso “ Pedro Juvêncio de Souza, o Sr. Pedro Mestre ” – amigo dos alunos, o qual sempre os cativava com deliciosos biscoitinhos de polvilho, sabendo ser sempre enérgico, porém generoso, um verdadeiro educador, que se preocupava não apenas com a transmissão de conteúdos, mas também com a formação do indivíduo como ser humano, como contava o senhor Argemiro Sant’Ana. “ P edro Mestre ” sabia ser o mestre de outros mestres que também fizeram parte de nossa história, e aqui aproveitamos para...

Dona Mariana Felisbina em Nepomuceno.

Ao buscar dona Mariana Felisbina, o Projeto Partilha a encontrou no PORTO DOS MENDES DE NEPOMUCENO. Ela foi casada em primeiras núpcias com José Caetano de Carvalho e em segunda com Antonio Pereira de Gouveia(I), filho de José Pereira da Silva e de Ana Teres de Jesus. Ana, filha de Manoel Alves Pedrosa, casada com Antonio Dias de Gouveia, da Fazenda Ponte Falsa, do Carmo da Cachoeira da Boa Vista, de Lavras do Funil. Tarcísio José Martins, p.768 de Quilombo do Campo Grande, 2008, diz:Ao buscar dona Mariana Felisbina, o Projeto Partilha a encontrou no PORTO DOS MENDES DE NEPOMUCENO. Ela foi casada em primeiras núpcias com José Caetano de Carvalho e em segunda com Antonio Pereira de Gouveia(I), filho de José Pereira da Silva e de Ana Teres de Jesus. Ana, filha de Manoel Alves Pedrosa, casada com Antonio Dias de Gouveia, da Fazenda Ponte Falsa, do Carmo da Cachoeira da Boa Vista, de Lavras do Funil. Tarcísio José Martins, p.768 de Quilombo do Campo Grande, 2008, diz: "O Texto...

Carmo da Cachoeira: De 1770 à Inconfidência Mineira

Carmo da Cachoeira: consolidação de registros entre sesmarias, capelas e caminhos Quando se mudou para Carmo da Cachoeira, a professora Leonor Rizzi deparou-se com um incômodo persistente: nem mesmo a população local sabia explicar com segurança a origem do nome “Rattes”. Uns diziam que vinha de ratos, outros associavam a alguma cachoeira, e, nesse jogo de versões, a memória da família que primeiro ocupou a região foi sendo apagada em benefício das oligarquias que assumiram as sesmarias mais tarde. A organização desta tabela cronológica nasce justamente do propósito de resgatar a importância desses pioneiros, esclarecer a verdadeira origem do nome e desmistificar as explicações fantasiosas que se acumularam ao longo do tempo. Dando continuidade ao trabalho iniciado em 25 de janeiro de 2008, a professora Leonor Rizzi reuniu, no bloco que intitulou “Tabela 7 – de 1770 até a Inconfidência Mineira ”, um conjunto de registros que mostra como se estruturavam o território, as famílias e a ...

A História de Carmo da Cachoeira: O Resgate de Leonor Rizzi

A professora Leonor Rizzi dedicou-se a organizar dados que resgatassem a origem mais remota da ocupação europeia na região que viria a ser Carmo da Cachoeira . Por isso, tomou como marco inicial de suas Tabelas Cronológicas a trajetória do nome Rattes , ligado à primeira família europeia conhecida na área. As Tabelas Cronológicas 1 e 2, aqui unificadas, procuram situar Carmo da Cachoeira dentro de uma linha do tempo ampla, que vai das tradições medievais ligadas a São Pedro de Rates até o ciclo do pau-brasil e da cana-de-açúcar no Brasil . publicado originalmente em 21 de janeiro de 2008 Dos primórdios até o ciclo do pau-brasil Tabelas Cronológicas 1 e 2 unificadas A leitura de longo prazo proposta por Leonor Rizzi começa no campo da tradição cristã. No ano 44 , conta-se que Santiago, apóstolo , teria passado pela serra de Rates e sagrado Pedro de Rates como primeiro bispo de Braga . Essa figura, ligada ao imaginário medieval, é um dos fios que mais tarde aproximariam o topôn...