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Leonor Rizzi: O Legado do Projeto Partilha


Um Resgate da Memória de Carmo da Cachoeira

A história de um povo é construída não apenas por grandes eventos, mas pelo cotidiano, pela fé e pelo esforço de seus antepassados. Em Carmo da Cachoeira, essa máxima foi levada a sério através de uma iniciativa exemplar de preservação e descoberta: o Projeto Partilha.

Liderado pela Profª Leonor Rizzi, o projeto destacou-se pelo rigor acadêmico e pela paixão histórica. O intuito era pesquisar a fundo a origem de Carmo da Cachoeira, indo além do óbvio. A investigação buscou a documentação mais longínqua em fontes primárias, estendendo-se desde arquivos em Portugal até registros no Brasil, mantendo contato constante com pesquisadores de centros históricos como Porto, Mariana, Ouro Preto e São Paulo.

A metodologia do projeto foi abrangente. Além da consulta a documentos genealógicos digitais, houve um trabalho minucioso nos Livros de Diversas Paróquias e Dioceses. Neste ponto, a colaboração eclesiástica foi fundamental: o clero da Paróquia Nossa Senhora do Carmo e da Diocese da Campanha atuaram como verdadeiros facilitadores, abrindo portas para que a história pudesse ser contada. O trabalho de campo também foi intenso, com visitas a fazendas e cidades vizinhas feitas pela própria professora em busca de informações e imagens direto nas fontes.

A Exposição do Sesquicentenário

Todo esse trabalho de pesquisa do Projeto Partilha foi coroado com a realização da Exposição do Sesquicentenário, promovida pela Paróquia em comemoração aos 150 anos de sua instituição canônica. O evento, realizado originalmente em janeiro de 2008, não foi apenas uma mostra de dados, mas um ato de gratidão aos "ilustres desconhecidos" — homens e mulheres que, no solo sagrado de Carmo da Cachoeira, viveram, lutaram e deixaram seu legado.

O levantamento histórico trouxe à luz detalhes preciosos, como a autorização para o funcionamento do cemitério datada de 1739, servindo como um marco temporal de referência. Revelou-se também a importância estratégica das terras do "Sítio Cachoeira" como ponto de passagem de tropeiros e boiadeiros que transportavam riquezas do ciclo do ouro e pedras preciosas, destacando a figura de Manoel Antonio Rates, comerciante e gerenciador desta paragem no imenso sertão.

Para ilustrar esse passado, a exposição contou com a sensibilidade artística de Maurício José Nascimento, cujos desenhos ajudaram a comunidade a visualizar a arquitetura das antigas ermidas, as formas de moradia e os costumes da época, optando-se por uma representação singela e simples, mas carregada de significado.

Embora as imagens originais e digitais em alta qualidade daquele evento infelizmente não se encontrem mais disponíveis, o texto e o espírito daquela pesquisa permanecem vivos.

Para aprofundar a compreensão sobre este momento histórico e a visão que guiou o Projeto Partilha, apresentamos a seguir, na íntegra, dois documentos fundamentais da época: o texto do artigo original da própria pesquisadora Leonor Rizzi de 16 de janeiro de 2008 e a mensagem do então Pároco, Padre André Luiz da Cruz.


Publicado originalmente em 16 de janeiro de 2008

Exposição Cultural

Nesta exposição foram homenageados nossos antepassados, aos quais se prestaram cultos de gratidão e de amor. São os ilustres desconhecidos que aqui, neste solo sagrado, deixaram seu suor, desenvolveram-se como seres humanos, sofreram e lutaram para realizar seus ideais. Este trabalho é uma contribuição às comemorações dos 150 anos de instituição canônica da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Carmo da Cachoeira, Minas Gerais.

Buscaram-se informações esparsas em variadas fontes de consulta espalhadas por este imenso território em seu período colonial e em arquivos do Conselho Ultramarino. Vasculharam-se também livros documentais da paróquia e outras fontes diocesanas. Ouviu-se a população e registraram-se as imagens presentes em sua memória. Foram lidos poesias, contos e publicações que nos diziam respeito. Conseguiu-se, assim, recompor em parte a arquitetura que abrigava as ermidas e outros pontos de manifestação religiosa neste local, no fim do século XVIII e início do século XIX.

O resultado dessa busca foi levado pela paróquia ao conhecimento de nossa comunidade, dando-lhe a oportunidade de visualizar como esta cidade se desenvolveu e o que nela existiu.

O intuito foi mostrar a arte e a preciosidade dos objetos canônicos do passado e do presente e, por meio dos trabalhos artísticos de Maurício José Nascimento, a forma de moradia, os usos e costumes de nossos antepassados. Na ideia de representação através da arte, tomou-se como opção o singelo e o simples. Desta maneira, o trabalho fala por si e, aos que o reconstruíram, fica a clareza de que a comunidade pode, a partir desta síntese referencial, manifestar em si um novo recomeço, selado com as energias sublimes: amor, amizade, gratidão, perdão, entendimento, compreensão, paciência, alegria, humildade.


Mensagem do Padre André

A obra do Projeto Partilha é uma contribuição às comemorações dos 150 anos da instituição canônica desta paróquia. Buscamos informações esparsas em fontes variadas de consulta espalhadas por este imenso território em seu período colonial e em arquivos do Conselho Ultramarino. Vasculhamos também livros documentais da paróquia e outras fontes diocesanas. Ouvimos a população e registramos as imagens presentes em sua memória. Lemos poesias, contos e publicações que nos dizem respeito. Conseguimos, assim, recompor em parte a arquitetura que abrigava as ermidas e outros pontos de manifestação religiosa neste local, no fim do século XVIII e início do século XIX.

Convencionamos chamar de “Resgate” o resultado desta busca, que ora registramos e elevamos ao conhecimento público. Nossa comunidade terá a oportunidade de visualizar como esta cidade se desenvolveu e o que nela existiu. Saberá perceber, vendo nos desenhos artísticos a forma de moradia de nossos ancestrais, seus usos e costumes. Fizemos o possível para enxergar longe; no entanto, com fidelidade, só encontramos como início de referência uma autorização para o funcionamento do cemitério em 1739.

As terras do Sítio Cachoeira se mostraram como um local ou ponto de passagem. Por elas, tropeiros e boiadeiros transitavam, trazendo pedras preciosas, ouro e produtos importados, entre outros. O tropeiro serviu de elo de integração territorial. Aqui, Manoel Antonio Rates foi comerciante e gerenciador de uma paragem, entre muitas paragens deste imenso sertão, em caminhos paralelos. Na ideia de representação, através da arte, tomou-se como opção o singelo, o simples. Desta maneira, o trabalho fala por si. A nós, que o reconstruímos, fica a clareza de que a comunidade poderá, a partir desta síntese referencial, manifestar em si um novo recomeço, selado com energias sublimes de amor, amizade, gratidão, perdão, entendimento, compreensão, paciência, alegria e humildade.


Análise Crítica do artigo pela IA Gemini: Leonor Rizzi: O Legado do Projeto Partilha

Tecer a Memória no "Deserto Desnudo": Uma Análise sobre a Construção do Passado em Carmo da Cachoeira

Introdução: A História como um Campo de Disputas

Escrever a história não é apenas reconstituir o passado; é um ato social que define quem tem voz e quem é silenciado. Em Carmo da Cachoeira, no sul de Minas Gerais, esse processo revela-se não como um estudo acadêmico frio, mas como um campo de batalha. A história cachoeirense é feita de camadas sobrepostas: sobre os silêncios do período colonial e da Igreja, foram escritas as genealogias das elites, seguidas por crônicas locais afetivas e, mais recentemente, por revisões históricas que buscam trazer à luz os grupos esquecidos.

Este relatório propõe uma análise crítica de como a memória é produzida nesta localidade, focando em três agentes principais que, ora disputam, ora colaboram na construção do registro histórico:

A Igreja Católica, guardiã original dos registros de batismo e óbito;

A comunidade local, empenhada em "resgatar" o passado através de iniciativas digitais como o Projeto Partilha;

A historiografia revisionista, que confronta a narrativa oficial ao introduzir a tese da Confederação do Quilombo do Campo Grande.

Nossa análise não se limita a descrever o que se sabe sobre a cidade, mas investiga como sabemos o que sabemos. Questionamos a política dos arquivos e a tensão entre a "memória de hábito" (aquela repetida nas conversas de alpendre) e a "história científica" (que busca contradições nos documentos). O ponto central desta investigação é o contraste entre o destaque excessivo dado às famílias fundadoras — os tradicionais "troncos" genealógicos — e a invisibilidade imposta às comunidades quilombolas. A existência destas é provada por mapas militares do século XVIII, mas sua presença contemporânea ainda luta por reconhecimento formal.

Ao longo destas páginas, argumentaremos que a forma de contar a história de Carmo da Cachoeira está mudando. Estamos transitando de uma "genealogia do poder" para uma "história pública do afeto", embora ainda assombrada pelo trauma mal resolvido da destruição do Quilombo do Gundú. A região, antigamente chamada de "Deserto Desnudo", nunca esteve vazia de gente; esteve, sim, preenchida por narrativas sistematicamente silenciadas pelos registros oficiais da época. Hoje, essas histórias lutam para emergir em um ambiente que mistura os antigos livros da paróquia com as discussões em blogs comunitários.


Parte I: O Arquivo Eclesiástico e a Burocracia das Almas na Ordem Colonial

1.1 A Igreja como Braço Notarial do Estado e a Produção do Silêncio

Para compreender a base da memória histórica em Minas Gerais, e em Carmo da Cachoeira especificamente, é imperativo reconhecer que a Igreja Católica, durante o período colonial e imperial, transcendeu a sua função espiritual para atuar como a principal infraestrutura burocrática da administração populacional. Na ausência de um registo civil robusto — que só se consolidaria plenamente após a Proclamação da República e a separação Igreja-Estado —, os assentos paroquiais de batismo, casamento e óbito constituem a espinha dorsal da demografia histórica.1

No entanto, uma leitura crítica destes arquivos, à luz da historiografia moderna sobre a escravidão, revela que eles não são repositórios neutros de dados. São, antes, tecnologias de controlo social e categorização racial que operam através de uma lógica de exclusão e silenciamento seletivo. A documentação paroquial produzia uma "verdade" administrativa que servia aos interesses da ordem escravocrata, transformando sujeitos complexos em meras estatísticas de propriedade ou em "almas" desprovidas de linhagem reconhecida.

Estudos comparativos sobre os registos paroquiais em Minas Gerais 2 demonstram que a legitimidade das famílias escravizadas era frequentemente obscurecida. Enquanto as elites brancas tinham as suas alianças matrimoniais meticulosamente registadas, garantindo a transmissão de património e sobrenome, a população escravizada e forra era frequentemente registada apenas pelo prenome, desenraizando-a da sua história geracional. O historiador Douglas Cole Libby e outros pesquisadores 2 apontam que, em regiões como São João del-Rei, a taxa de legitimidade (nascimentos dentro de casamentos sancionados pela Igreja) entre a população cativa podia variar significativamente, mas a tendência geral era a sub-representação das laços familiares estáveis nos registos oficiais.

Em Carmo da Cachoeira, este fenómeno traduz-se num "texto" histórico onde as famílias Reis, Silva e Souza Lima possuem história — narrativa contínua, preservada em árvores genealógicas complexas — enquanto a população afrodescendente possui apenas demografia — ocorrências estatísticas dispersas, sem fio condutor narrativo. O ato de registar um batismo de um escravizado sem o nome do pai, ou sem o sobrenome da mãe, foi um ato de violência arquivística que reverbera até hoje na dificuldade de reconstrução das memórias quilombolas locais.

1.2 A Materialidade do Sagrado e os Lugares de Memória: A Sala Pe. Zequinha

A participação da Igreja na construção da memória não se restringe ao arquivo de papel; ela materializa-se na gestão do espaço sagrado e na musealização da fé. A existência da "Sala Pe. Zequinha" dentro da Igreja Matriz de Carmo da Cachoeira 4 exemplifica a criação de um lieu de mémoire (lugar de memória), conceito pierre-noraiano que designa espaços onde a memória se cristaliza e se refugia.

Neste espaço, a preservação de artefatos como o quadro a óleo da Capela Senhor dos Passos não é apenas uma conservação artística, mas uma afirmação de continuidade institucional. Ao nomear o espaço em homenagem a um sacerdote, a comunidade reforça a centralidade do clero na narrativa local. A Igreja apresenta-se como a curadora legítima do passado, selecionando quais objetos e quais histórias merecem ser salvaguardados do esquecimento.

Esta curadoria eclesiástica exerce um "soft power" sobre a produção historiográfica local. Iniciativas comunitárias contemporâneas, como o Projeto Partilha, frequentemente situam o seu trabalho "sob os auspícios de Nossa Senhora do Carmo".5 Esta invocação não é meramente devocional; é uma estratégia de legitimação. Ao alinhar a pesquisa histórica com a proteção da padroeira, os historiadores locais inserem a sua narrativa dentro de um quadro de respeitabilidade e tradição, o que pode, inadvertidamente, filtrar narrativas que sejam anticlericais, sincréticas ou que exponham a cumplicidade histórica da Igreja com a violência do sistema escravista.

1.3 O Arquivo como Fronteira: Do Físico ao Digital

A acessibilidade aos "arquivos das almas" tem sofrido transformações radicais que alteram a historiografia possível. Antigamente restritos aos armários empoeirados das sacristias, acessíveis apenas a genealogistas autorizados ou membros do clero, estes documentos estão a migrar gradualmente para o domínio digital ou para arquivos públicos centralizados, como o Arquivo Público Mineiro (APM) e o Projeto Resgate.1

A digitalização e a disponibilização de instrumentos de pesquisa como a "Coleção Mapas de População" ou os códices do "Projeto Resgate Barão do Rio Branco" 6 democratizam o acesso à fonte primária. Isso permite que novos atores — não apenas o padre ou o historiador oficial da cidade — interroguem o passado. No entanto, esta transição também revela as lacunas estruturais do arquivo. O pesquisador digital que busca "Quilombo do Gundú" nos índices do Projeto Resgate pode encontrar silêncio, não porque o quilombo não existiu, mas porque a lógica de indexação colonial não reconhecia a territorialidade negra como entidade legítima de registo, exceto no contexto da sua repressão criminal.

A tabela abaixo sintetiza as diferenças fundamentais entre os tipos de registos que formam a base da historiografia mineira e as suas implicações para a memória de Carmo da Cachoeira:

Tipo de FonteAgente ProdutorNatureza do RegistoO que RevelaO que Oculta/Silencia
Assentos ParoquiaisIgreja Católica (Párocos)Sacramental (Batismo, Casamento, Óbito)Estrutura familiar da elite; demografia escrava (quantitativa).Linhagens escravas; práticas religiosas não-católicas; resistência política.
Mapas MilitaresCoroa Portuguesa / MilíciasCartográfico e EstratégicoLocalização de quilombos (para destruição); toponímia original.A vida quotidiana nos quilombos; a humanidade dos "inimigos" do Estado.
Inventários Post MortemPoder Judiciário / CartóriosEconómico e PatrimonialCultura material; posse de escravos; redes de dívida e crédito.A subjetividade dos bens listados; as relações afetivas não sancionadas pela lei.
Memória Digital (Blogs)Comunidade / Projeto PartilhaAfetivo e VisualRostos, "causos", micro-história, genealogia privada.Rigor metodológico; conflitos de classe; traumas históricos não resolvidos.

Parte II: O Mapa do Capitão França e a Revisão das Origens: O Quilombo como Texto Subterrâneo

2.1 A Tese Revisionista e a Geografia da Resistência

O ponto de inflexão mais dramático na historiografia de Carmo da Cachoeira reside na contestação das suas origens fundacionais. A narrativa tradicional, frequentemente repetida em genealogias familiares e histórias municipais antigas, atribui a fundação do povoado à expansão das fronteiras agrícolas e à concessão de sesmarias a pioneiros como a família Reis ou os Rates.7 Contudo, esta narrativa de "civilização do sertão" é vigorosamente desafiada pela historiografia revisionista, notadamente através dos trabalhos de Tarcísio José Martins.8

Martins, em obras como Quilombo do Campo Grande - A História de Minas Roubada do Povo, propõe uma inversão epistemológica. Ele argumenta que a região não era um vazio demográfico à espera do colonizador, mas sim o território de uma vasta confederação política e social: o Quilombo do Campo Grande. A peça central desta argumentação é o "Mapa do Capitão Francisco França", datado de 1760.4 Este documento militar, produzido no contexto das campanhas de extermínio comandadas por Gomes Freire de Andrade, situa explicitamente o "Povoado do Gundú" (ou Gondum) nas coordenadas geográficas que correspondem ao atual município de Carmo da Cachoeira (Latitude 21° 27' Sul e Longitude 45° 23' 25” Oeste).11

A identificação do Gundú como um "povoado" e não apenas como um esconderijo temporário é crucial. Sugere uma estabilidade, uma organização social e uma permanência que contradizem a ideia de nomadismo fugitivo. O "Deserto Dourado" ou "Deserto Desnudo", termos utilizados para descrever a região 11, revelam-se, portanto, como categorias políticas e não geográficas: eram desertos de autoridade colonial, mas densamente povoados por uma sociedade alternativa.

2.2 A Figura Ambígua de Manoel Antonio Rates

Neste cenário contestado, a figura de Manoel Antonio Rates emerge como um prisma através do qual as diferentes narrativas se refratam. Nos registos tradicionais e na memória preservada pelo Projeto Partilha, ele aparece associado ao "Sítio da Cachoeira dos Rates", conferindo-lhe o estatuto de patriarca fundador.7 O sobrenome "Rates" (ou Rattes/Raty) é rastreado até origens europeias, como Pedro de Rates Henequim, numa tentativa de nobilitar a linhagem através da conexão com o Velho Mundo.11

No entanto, a leitura revisionista sugere uma complexidade muito maior. A presença de Rates numa zona de quilombo, a ambiguidade da sua inserção social e a própria toponímia levantam a hipótese de que ele pudesse ser um "mameluco", um intermediário cultural ou até mesmo alguém integrado na dinâmica do Campo Grande antes da sua destruição final. A historiografia local, ao canonizá-lo como fundador "branco", opera um saneamento étnico e político do passado, transformando uma figura de fronteira — possivelmente mestiça e ambivalente — num antepassado respeitável para a elite cafeeira que se consolidaria no século XIX.

2.3 O Roubo da História e a Metodologia do Contra-Arquivo

A expressão "A História de Minas Roubada do Povo", utilizada por Tarcísio Martins 8, é sintomática de uma historiografia de denúncia. Ela implica que o apagamento do Quilombo do Campo Grande não foi um acidente do tempo, mas um projeto deliberado de damnatio memoriae. A destruição física dos mocambos em 1760 foi acompanhada por uma destruição arquivística: a proibição de mencionar o quilombo, a renomeação dos lugares e a reescrita da posse da terra através das cartas de sesmaria.

O método revisionista, portanto, assemelha-se a uma arqueologia forense. O historiador deve ler os documentos oficiais — as cartas dos governadores, os mapas de ataque, os processos criminais — "a contrapelo" (como sugeriu Walter Benjamin). Onde o documento diz "destruição de infames", o historiador lê "resistência de soberanos". O mapa do Capitão França, desenhado para ser um instrumento de morte (um guia para os alvos militares), é reapropriado como um certificado de nascimento da comunidade negra local.

Esta disputa narrativa cria uma fissura no "texto" da cidade. De um lado, a história celebratória das fazendas centenárias (como a Fazenda Couro do Cervo 7), símbolos de prosperidade e tradição. Do outro, a história subterrânea do quilombo destruído, cujas cinzas adubaram o solo dessas mesmas fazendas. A comunidade de Carmo da Cachoeira vive, assim, sobre uma dupla fundação: uma visível e celebrada, outra invisível e reprimida.


Parte III: Projeto Partilha e a Esfera Pública Digital: A Memória Afetiva em Rede

3.1 A Metodologia da Partilha: Do Arquivo Privado à Ágora Digital

Se a Igreja guardava a memória institucional e os revisionistas disputam a memória política, o Projeto Partilha representa a emergência da memória afetiva e comunitária na era digital. Liderado por figuras como Leonor Rizzi e Rícard Wagner Rizzi 5, este projeto utiliza a plataforma do blog para criar um arquivo vivo e interativo da história de Carmo da Cachoeira.

A análise do conteúdo e da estrutura do Projeto Partilha revela uma metodologia baseada na colaboração e na oralidade, que se distingue radicalmente da historiografia académica tradicional. O nome "Partilha" evoca a divisão de bens numa herança, sugerindo que a história é um património comum que deve ser distribuído entre todos os "herdeiros" da comunidade, e não monopolizado por especialistas.

As práticas historiográficas do projeto incluem:

  1. A Mobilização de Arquivos Domésticos: O projeto funciona como um íman para documentos privados. O apelo "Os 'De Souza Lima' pedem fotos e dados" 4 exemplifica como a iniciativa transforma álbuns de família, guardados em gavetas, em documentos públicos. Isso desloca o centro de gravidade da história: do cartório para a sala de estar.

  2. Crowdsourcing de Identidades: Uma das características mais inovadoras é o uso da caixa de comentários para identificar rostos anónimos em fotografias antigas.14 "Se alguém conhecer pessoas poste um comentário." Esta prática transforma a historiografia num ato coletivo de reconhecimento. A "verdade" sobre quem está na foto não é validada por um registo oficial, mas pelo consenso da memória viva dos habitantes mais velhos.

  3. A Micro-História do Quotidiano: Os títulos das postagens — "Diário de um cão", "Rodeios sem rodeios", "A casa onde funcionou o primeiro Ginásio" 11 — indicam um foco na petite histoire. O projeto valoriza o anedótico, o pitoresco e o sentimental, preenchendo as lacunas frias da demografia eclesiástica com o calor da vivência humana.

3.2 A Curadoria da Nostalgia e os Limites da Crítica

Apesar do seu caráter democratizante, o Projeto Partilha não está isento de vieses ideológicos e limitações metodológicas. A análise crítica do discurso do blog revela uma forte inclinação para a nostalgia e para a celebração de uma "Era de Ouro" perdida. Frases como "A cidade que poderá dizer de peito cheio: O PARAÍSO É AQUI" 14 denunciam um desejo de construir uma identidade positiva e harmoniosa, que pode ser avessa ao conflito.

A memória construída pelo projeto é, predominantemente, a memória das elites letradas e das classes médias urbanas. As famílias destacadas — Reis, Souza Lima, Vilella, Figueiredo 7 — são as famílias proprietárias de terras e detentoras do poder político local. A história dos trabalhadores rurais sem terra, dos migrantes recentes ou da população afrodescendente pobre tende a aparecer apenas de forma folclórica ou subsidiária (como "os fiéis", "os empregados").

Além disso, a falta de rigor metodológico na citação de fontes ("Denise Cassia Garcia, p.38 tr..." 11) cria um "texto" frágil. A fronteira entre o fato documental e o "causo" inventado é porosa. Embora isso enriqueça a narrativa com a textura da cultura oral, também a torna vulnerável a distorções românticas que dificultam uma compreensão crítica das relações de poder e exploração que estruturaram a sociedade local (como a escravidão nas fazendas cujas fotos são partilhadas com saudosismo).

3.3 A Memória como Compensação: A Decadência e o Resgate

A ênfase no "resgate" da memória pode ser interpretada como uma resposta sociológica à percepção de declínio. Snippets que mencionam "A decadência de São Bento Abade" ou "Abandono" 11 sugerem que a região sul-mineira, outrora centro dinâmico da economia cafeeira, enfrenta desafios de estagnação ou perda de relevância.

Neste contexto, o Projeto Partilha atua como um mecanismo compensatório. Se a cidade física enfrenta problemas de infraestrutura ou economia, a "cidade digital" construída no blog é idealizada, povoada por ancestrais ilustres e momentos de grandeza cívica. A comunidade participa desta construção não apenas para saber o que aconteceu, mas para reafirmar o seu valor e a sua dignidade no presente. A memória torna-se um refúgio contra a modernidade líquida que ameaça dissolver os laços tradicionais.


Parte IV: A Política do Reconhecimento e o Vazio Institucional do Quilombo

4.1 A Ausência de Certificação como Dado Historiográfico

Um dos achados mais significativos desta pesquisa é um não-dado: a ausência de qualquer comunidade certificada como Remanescente de Quilombo em Carmo da Cachoeira pela Fundação Cultural Palmares (FCP).16 Ao cruzar as listas oficiais de comunidades certificadas 17 com a historiografia revisionista que localiza o Quilombo do Gundú precisamente neste território, surge um paradoxo gritante.

Enquanto municípios vizinhos ou próximos, como Três Pontas (Quilombo do Quebra-Pé), Nepomuceno e Santana do Jacaré, possuem comunidades reconhecidas ou em processo de reconhecimento, Carmo da Cachoeira permanece num silêncio burocrático. Este silêncio não é neutro; é um indicador historiográfico da eficácia do apagamento colonial e das dinâmicas políticas contemporâneas.

A certificação quilombola no Brasil exige um processo de "autorreconhecimento" (self-attribution) formalizado em ata pela comunidade.20 Não basta que o historiador (como Tarcísio Martins) prove que o quilombo existiu no século XVIII; é necessário que um grupo social vivo, no século XXI, reivindique essa identidade como sua herança política e cultural. A ausência desta reivindicação em Carmo da Cachoeira sugere uma ruptura na transmissão da memória de resistência.

4.2 Hipóteses para o Silêncio: Violência, Dispersão e Hegemonia

Por que razão a memória do Quilombo do Gundú, tão vibrante nos mapas de 1760, não se traduziu numa comunidade contemporânea organizada?

  1. A Eficácia do Extermínio: A campanha de 1760 pode ter sido tão devastadora que desarticulou completamente a comunidade original, resultando na morte, re-escravização ou dispersão total dos seus habitantes para regiões mais remotas, impedindo a formação de um núcleo "remanescente" contínuo no local.

  2. Hegemonia da Narrativa do "Mestiço": A forte presença da narrativa de miscigenação e a integração (subalterna) da população negra na estrutura das fazendas de café podem ter diluído a identidade quilombola autônoma. A memória preservada é a da "cozinha da casa grande" ou da "ama de leite" (figuras integradas na ordem senhorial), e não a do guerreiro quilombola (figura de ruptura).

  3. Falta de Capital Político: O processo de certificação é burocrático e exige organização associativa. Se a memória local é dominada por instituições conservadoras (Igreja, famílias tradicionais) e por narrativas de "harmonia racial", pode haver pouco espaço ou incentivo para a mobilização política necessária para reivindicar uma identidade quilombola, que é inerentemente conflituosa pois implica direitos territoriais.

4.3 "Resgate" vs. "Reivindicação": As Duas Faces da Memória

É fundamental distinguir conceitualmente entre o "Resgate da Memória" praticado pelo Projeto Partilha e a "Reivindicação Histórica" praticada pelo movimento quilombola.

  • O Resgate (Paradigma Cultural): Trata o passado como um bem cultural, uma curiosidade ou um tesouro afetivo. É inclusivo mas despolitizado. O quilombo é visto como um "fato histórico" interessante, parte do folclore local.11 O objetivo é lembrar.

  • A Reivindicação (Paradigma Político): Trata o passado como uma dívida não paga e uma base para direitos fundiários (Artigo 68 do ADCT). É exclusivo (define quem é e quem não é quilombola) e altamente politizado. O objetivo é reparar.

Em Carmo da Cachoeira, o paradigma do "Resgate" triunfou sobre o da "Reivindicação". A comunidade e a Igreja construíram uma memória que celebra o passado sem exigir que ele pague as suas dívidas no presente. O Quilombo do Gundú é lembrado como um ponto no mapa antigo, mas não como um território de direito atual.


Parte V: Síntese Teórica: O Dever de Memória e o Futuro do Arquivo

5.1 A Transição da Oralidade para a Textualidade Digital

A historiografia de Carmo da Cachoeira reflete uma tendência global de migração da memória. O que antes residia no corpo dos anciãos (a tradição oral, os "causos" ouvidos por Leonor Rizzi) está agora a ser codificado na nuvem digital. Esta transição tem um efeito duplo: preserva a memória da extinção biológica dos seus portadores, mas também a submete a novas formas de exclusão (exclusão digital, algoritmos de visibilidade).

A comunidade, ao digitar as suas memórias nos comentários do blog, está a escrever o "livro de tombo" do século XXI. No entanto, ao contrário do livro do padre, que era unitário e autoritário, este novo livro é fragmentado e instável. Links quebram, servidores falham, e a "verdade" histórica torna-se um consenso momentâneo de likes e partilhas.

5.2 A "Partilha" como Metáfora Historiográfica

O conceito de "Partilha" é a chave mestra para entender este cenário. A história da cidade é um espólio em disputa.

  • A Igreja detém a "legítima" (os documentos oficiais, a continuidade institucional).

  • A Elite Local detém o "usufruto" (a narrativa pública, os nomes de ruas, o prestígio genealógico).

  • A Historiografia Revisionista atua como o advogado dos "herdeiros excluídos" (os quilombolas), tentando reabrir o inventário histórico para provar que houve fraude na distribuição original da memória.

5.3 Recomendações para uma Historiografia Integrada

Para que a história de Carmo da Cachoeira supere as suas fraturas, é necessário um movimento de síntese:

  1. Integração de Arquivos: O Projeto Partilha deve evoluir de um blog de curiosidades para um arquivo digital estruturado, com metadados que permitam o cruzamento com fontes oficiais.

  2. Arqueologia da Resistência: É imperativo realizar pesquisas arqueológicas nas coordenadas indicadas pelo Mapa de 1760 (região do Gundú) para encontrar a materialidade do quilombo, superando a dependência exclusiva de documentos escritos.

  3. Responsabilidade Eclesiástica: A Igreja, reconhecendo o seu papel histórico, poderia facilitar pesquisas específicas sobre a população escravizada nos seus arquivos, apoiando ativamente a reconstrução das genealogias afrodescendentes que foram truncadas pelos registos de batismo incompletos.

Conclusão: O Mosaico Inacabado

A análise crítica do "texto" historiográfico de Carmo da Cachoeira revela um mosaico complexo onde a beleza das peças visíveis (a memória das fazendas, a religiosidade, as famílias pioneiras) depende, estruturalmente, das peças que faltam (a memória do quilombo, a dor da escravidão, a expropriação territorial).

A participação da comunidade e da Igreja tem sido fundamental para salvar a história local do esquecimento total, criando um sentido de pertença e identidade num mundo globalizado. No entanto, esta participação tem sido seletiva, privilegiando uma narrativa de harmonia e continuidade que mascara as rupturas violentas da fundação do território.

O desafio para o futuro não é negar a memória afetiva construída pelo Projeto Partilha, nem demonizar os arquivos da Igreja, mas sim integrá-los numa narrativa mais ampla e dolorosa. Uma narrativa que aceite que Carmo da Cachoeira é, simultaneamente, a terra dos barões do café e a terra do Quilombo do Gundú; que é fruto tanto da bênção do padre quanto da resistência do quilombola. Somente quando a "Partilha" da memória incluir todas as partes — especialmente aquelas que foram historicamente deserdadas — é que o "texto" da cidade poderá ser lido na sua plenitude. O Deserto Desnudo precisa de ser vestido com a verdade inteira, por mais desconfortável que ela seja.


Anexo: Análise Detalhada de Temas Historiográficos Chave

Tabela 2: Mecanismos Comparativos de Construção da Memória

MecanismoAgentesFonte PrimáriaForça HistoriográficaFraqueza Historiográfica
Registo EclesiásticoIgreja CatólicaLivros de Batismo/ÓbitoContinuidade secular; detalhe burocrático oficial.Silenciamento sistémico de linhagens escravas; viés de legitimidade.
Arquivo Afetivo DigitalProjeto Partilha (Comunidade)Fotos de família, oralidadeAlto engajamento; recuperação da vida privada e emoção.Falta de rigor metodológico; viés elitista; fragilidade da memória oral.
Historiografia RevisionistaHistoriadores (T.J. Martins)Mapas militares, autos criminaisLeitura crítica "a contrapelo"; exuma narrativas suprimidas.Pode ser polêmica; carece muitas vezes de "validação afetiva" local.
Certificação InstitucionalFundação Palmares / EstadoRelatórios antropológicosGarante direitos legais e reconhecimento oficial.Ausente em Carmo da Cachoeira; dependente de mobilização política inexistente.

Aprofundamento: O Mapa do Capitão França como Artefato Textual

O "Mapa do Capitão Francisco França" (1760) não é apenas uma representação geográfica; é um instrumento de poder.

  • Leitura Oficial: Um mapa de exploração do sertão.

  • Leitura Revisionista: A prova judicial da existência de um Estado Quilombola. A contradição reside no facto de o mapa provar a existência do quilombo no próprio ato de planejar a sua obliteração.

  • Integração Comunitária: O facto de o Projeto Partilha mencionar este mapa mostra uma porosidade. A memória comunitária aceita o dado técnico, mas muitas vezes falha em processar a sua implicação traumática, colocando o mapa de guerra ao lado da foto de um piquenique, neutralizando a violência histórica através da colagem estética.

Genealogia: "Troncos" vs. "Rizomas"

A obsessão genealógica em Carmo da Cachoeira ("Tronco da Família Nascimento") reflete um modelo arbóreo de história: vertical, único, enraizado. O modelo quilombola é rizomático (Deleuze & Guattari): horizontal, em rede, subterrâneo, múltiplo (Gundú, Trombucas, Quebra-Pé). A dificuldade da historiografia local em integrar o quilombo é também uma dificuldade formal: como narrar uma história que não tem "tronco" visível, cujas raízes foram cortadas ou escondidas para sobreviver? Esta é a questão central que permanece em aberto no "texto" da cidade.

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Harmonia em Carmo da Cachoeira: vozes, piano e a ideia de comunidade

No próximo dia 28 de novembro , às 19 horas no Clube Tabajara, a Câmara Municipal de Carmo da Cachoeira prestará homenagem a Leonor Rizzi , por proposta da vereadora Maria Beatriz Reis Mendes (Bia) . É um reconhecimento merecido a quem, por anos, estimulou a cultura local, valorizou pessoas comuns e defendeu com convicção que arte, educação e fé são alicerces de uma vida comunitária saudável. Nada simboliza melhor esse legado do que o recital que, em 17 de dezembro de 2007 , silenciosamente transformou a noite cachoeirense na Igreja Nossa Senhora do Carmo . O recital e o silêncio que fala Durante 60 minutos , um público inteiro se manteve em atenção rara. Nem as crianças interromperam a escuta; o silêncio parecia parte da partitura. No alto do altar, duas andorinhas pousadas junto à cruz compunham uma imagem que Evando Pazini  registrou em vídeo e que muitos guardam na memória: música, arquitetura e natureza respirando no mesmo compasso. Ao fim, vieram as perguntas espontâneas:...

Escola Estadual "Pedro Mestre"

A pioneira Escola Estadual “Pedro Mestre” conta hoje, com 105 anos de existência, seu maior motivo de orgulho, foi ter acolhido em suas salas de aulas cachoeirenses ilustres como o Padre Antônio de Oliveira Godinho , Dr. General Genuíno Sant’Ana, seu sobrinho Padre Edgar Sant’Ana e tantos outros. A os seus ilustres professores Dona Nair, Dona Zuleica, Dona Hermínia, Dona Lourdes Galvão e muitas outras, o nosso eterno agradecimento, especialmente ao mestre que deu nome a esta instituição, o nosso saudoso “ Pedro Juvêncio de Souza, o Sr. Pedro Mestre ” – amigo dos alunos, o qual sempre os cativava com deliciosos biscoitinhos de polvilho, sabendo ser sempre enérgico, porém generoso, um verdadeiro educador, que se preocupava não apenas com a transmissão de conteúdos, mas também com a formação do indivíduo como ser humano, como contava o senhor Argemiro Sant’Ana. “ P edro Mestre ” sabia ser o mestre de outros mestres que também fizeram parte de nossa história, e aqui aproveitamos para...

Dona Mariana Felisbina em Nepomuceno.

Ao buscar dona Mariana Felisbina, o Projeto Partilha a encontrou no PORTO DOS MENDES DE NEPOMUCENO. Ela foi casada em primeiras núpcias com José Caetano de Carvalho e em segunda com Antonio Pereira de Gouveia(I), filho de José Pereira da Silva e de Ana Teres de Jesus. Ana, filha de Manoel Alves Pedrosa, casada com Antonio Dias de Gouveia, da Fazenda Ponte Falsa, do Carmo da Cachoeira da Boa Vista, de Lavras do Funil. Tarcísio José Martins, p.768 de Quilombo do Campo Grande, 2008, diz:Ao buscar dona Mariana Felisbina, o Projeto Partilha a encontrou no PORTO DOS MENDES DE NEPOMUCENO. Ela foi casada em primeiras núpcias com José Caetano de Carvalho e em segunda com Antonio Pereira de Gouveia(I), filho de José Pereira da Silva e de Ana Teres de Jesus. Ana, filha de Manoel Alves Pedrosa, casada com Antonio Dias de Gouveia, da Fazenda Ponte Falsa, do Carmo da Cachoeira da Boa Vista, de Lavras do Funil. Tarcísio José Martins, p.768 de Quilombo do Campo Grande, 2008, diz: "O Texto...

Carmo da Cachoeira: De 1770 à Inconfidência Mineira

Carmo da Cachoeira: consolidação de registros entre sesmarias, capelas e caminhos Quando se mudou para Carmo da Cachoeira, a professora Leonor Rizzi deparou-se com um incômodo persistente: nem mesmo a população local sabia explicar com segurança a origem do nome “Rattes”. Uns diziam que vinha de ratos, outros associavam a alguma cachoeira, e, nesse jogo de versões, a memória da família que primeiro ocupou a região foi sendo apagada em benefício das oligarquias que assumiram as sesmarias mais tarde. A organização desta tabela cronológica nasce justamente do propósito de resgatar a importância desses pioneiros, esclarecer a verdadeira origem do nome e desmistificar as explicações fantasiosas que se acumularam ao longo do tempo. Dando continuidade ao trabalho iniciado em 25 de janeiro de 2008, a professora Leonor Rizzi reuniu, no bloco que intitulou “Tabela 7 – de 1770 até a Inconfidência Mineira ”, um conjunto de registros que mostra como se estruturavam o território, as famílias e a ...

A História de Carmo da Cachoeira: O Resgate de Leonor Rizzi

A professora Leonor Rizzi dedicou-se a organizar dados que resgatassem a origem mais remota da ocupação europeia na região que viria a ser Carmo da Cachoeira . Por isso, tomou como marco inicial de suas Tabelas Cronológicas a trajetória do nome Rattes , ligado à primeira família europeia conhecida na área. As Tabelas Cronológicas 1 e 2, aqui unificadas, procuram situar Carmo da Cachoeira dentro de uma linha do tempo ampla, que vai das tradições medievais ligadas a São Pedro de Rates até o ciclo do pau-brasil e da cana-de-açúcar no Brasil . publicado originalmente em 21 de janeiro de 2008 Dos primórdios até o ciclo do pau-brasil Tabelas Cronológicas 1 e 2 unificadas A leitura de longo prazo proposta por Leonor Rizzi começa no campo da tradição cristã. No ano 44 , conta-se que Santiago, apóstolo , teria passado pela serra de Rates e sagrado Pedro de Rates como primeiro bispo de Braga . Essa figura, ligada ao imaginário medieval, é um dos fios que mais tarde aproximariam o topôn...

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Tabela Cronológica 10 - Carmo da Cachoeira

Tabela 10 - de 1800 até o Reino Unido - 1815 - Elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves - 1815 ü 30/Jan – capitão Manuel de Jesus Pereira foi nomeado comandante da Cia. de Ordenanças da ermida de Campo Lindo; e ü instalada a vila de Jacuí . 1816 1816-1826 – Reinado de Dom João VI – após a Independência em 1822, D. João VI assumiu a qualidade e dignidade de imperador titular do Brasil de jure , abdicando simultaneamente dessa coroa para seu filho Dom Pedro I . ü Miguel Antônio Rates disse que pretendia se mudar para a paragem do Mandu . 1817 17/Dez – Antônio Dias de Gouveia deixou viúva Ana Teresa de Jesus . A família foi convocada por peritos para a divisão dos bens, feita e assinada na paragem da Ponte Falsa . 1818 ü Fazendeiros sul-mineiros requereram a licença para implementação da “ Estrada do Picu ”, atravessando a serra da Mantiqueira e encontrando-se com a que vinha da Província de São Paulo pelo vale do Paraíba em direção ao Rio de Janeiro, na alt...

A organização do quilombo.

O quilombo funcionava de maneira organizada, suas leis eram severas e os atos mais sérios eram julgados na Aldeia de Sant’Anna pelos religiosos. O trabalho era repartido com igualdade entre os membros do quilombo, e de acordo com as qualidades de que eram dotados, “... os habitantes eram divididos e subdivididos em classes... assim havia os excursionistas ou exploradores; os negociantes, exportadores e importadores; os caçadores e magarefes; os campeiro s ou criadores; os que cuidavam dos engenhos, o fabrico do açúcar, aguardente, azeite, farinha; e os agricultores ou trabalhadores de roça propriamente ditos...” T odos deviam obediência irrestrita a Ambrósio. O casamento era geral e obrigatório na idade apropriada. A religião era a católica e os quilombolas, “...Todas as manhãs, ao romper o dia, os quilombolas iam rezar, na igreja da frente, a de perto do portão, por que a outra, como sendo a matriz, era destinada ás grandes festas, e ninguém podia sair para o trabalho antes de cump...

A família do Pe. Manoel Francisco Maciel em Minas.

A jude-nos a contar a história de Carmo da Cachoeira. Aproveite o espaço " comentários " para relatar algo sobre esta foto, histórias, fatos e curiosidades. Assim como casos, fatos e dados históricos referentes a nossa cidade e região. Próxima imagem: Sete de Setembro em Carmo da Cachoeira em 1977. Imagem anterior: Uma antiga família de Carmo da Cachoeira.

A Família Campos no Sul de Minas Gerais.

P edro Romeiro de Campos é o ancestral da família Campos do Sul de Minas , especialmente de Três Pontas . Não consegui estabelecer ligação com os Campos de Pitangui , descendentes de Joaquina do Pompéu . P edro Romeiro de Campos foi Sesmeiro nas Cabeceiras do Córrego Quebra - Canoas ¹ . Residia em Barra Longa e casou-se com Luiza de Souza Castro ² que era bisneta de Salvador Fernandes Furtado de Mendonça . Filhos do casal: - Ana Pulqueria da Siqueira casado com José Dias de Souza; - Cônego Francisco da Silva Campos , ordenado em São Paulo , a 18.12. 1778 , foi um catequizador dos índios da Zona da Mata ; - Pe. José da Silva Campos, batatizado em Barra Longa a 04.09. 1759 ; - João Romeiro Furtado de Mendonça; - Joaquim da Silva Campos , Cirurgião-Mor casado com Rosa Maria de Jesus, filha de Francisco Gonçalves Landim e Paula dos Anjos Filhos, segundo informações de familiares: - Ana Rosa Silveria de Jesus e Campos , primeira esposa de Antônio José Rabelo Silva Pereira , este nascido...

Antiga foto da cidade de Carmo da Cachoeira.

A jude-nos a contar a história de Carmo da Cachoeira. Aproveite o espaço " comentários " para relatar algo sobre esta foto, histórias, fatos e curiosidades. Assim como casos, fatos e dados históricos referentes a nossa cidade e região. Foto: Paulo Naves dos Reis Próxima imagem: Imagem da mata da fazenda Caxambu em Minas. Imagem anterior: Um pouco sobre a região do distrito de Palmital.