Pular para o conteúdo principal

Antiquíssima Fazenda Urtiga

Uma fazenda enigmática

Antigos cachoeirenses ao falarem das fazendas antigas conservam na linguagem oral o nome da fazenda Urtiga, embora não aparece citada na relação das fazendas mais importantes do distrito da Boa Vista. Contam-nos os mais antigos cachoeirenses que as paredes do antigo casarão da Urtiga eram revestidas de molduras contendo fotos dos primeiros moradores. Lembram eles de que as imagens mostravam pessoas de famílias tradicionais que chamavam a atenção de quem as observava, como barbas e os cabelos, principalmente na figura masculina. Contam-nos eles que comentavam ser essas imagens de pessoas ilustres.

A sociedade mineira do século XVIII

André Figueiredo Rodrigues, às fls. 128 de sua obra A Fortuna dos Inconfidentes escreve:

No século XVIII, o termo da vila de Pitangui constituiu-se em um importante polo da pecuária regional no interior da capitania de Minas Gerais. Em sua maioria, as propriedades eram de criação de gado vacum e cavalar. Por ser área de constante expansão da cultura pecuarista, atraía os interesses das pessoas que tivessem cabedal para investir na região e que buscassem dividendos não imediatos.

A vila de Pitangui era uma área que mantinha contato com diversas regiões da capitania, onde a atuação do tropeiro e o seu movimentado registro, por onde passava principalmente gado vacum, peixe-seco, carne-seca e outros, gerava lucrativo comércio, destinado ao abastecimento local e aos mercados de outras capitania da América portuguesa, como São Paulo e Bahia.

Dos empreendimentos voltados para o mercado interno, a pecuária foi um dos mais rentáveis. Pitangui também se destacava pela exploração mineratória do ouro e pela venda de mantimentos.

O velho oeste mineiro, Pitangui e Itapecerica criados por volta do início do século XVIII, posteriormente se desdobrou em  Formiga, Campo Belo, Divinópolis, Camacho, Pedra do Indaiá e São Sebastião do Oeste. Depois da conspiração mineira houve um movimento de dispersão. A punição aos inconfidentes com degredos, confinamentos e pena de morte, aliado a perseguição, confisco de bens, humilhações públicas dirigidas aos envolvidos ao movimento e seus descendentes, as cidades auríferas esvaziavam-se. Saiam delas famílias e seus sectos e escravatura. Surgem então novos municípios, outros se desmembravam.

Segundo a tradição, tanto a Fazenda Boa Vista, como a Fazenda Urtiga a que a ela se integrava, teve fundadores famílias inseridas neste contexto. É o caso de José Joaquim Gomes Branquinho, filho de Ângela de Moraes Ribeiro e José Gomes Branquinho, seus pais eram sesmeiros, no termo de Pitangui, por volta do ano de 1746, no Córrego das Pedras.

Descendentes dos Branquinhos encontram-se, ainda hoje, em Minas Gerais, famílias das quais nos orgulhamos por participarem do tecido social que povoou Carmo da Cachoeira, Minas Gerais, em sua segunda fase do povoamento, ou seja, após a Inconfidência Mineira, século XVIII, e as questões ligadas à presença de quilombos da região (cf. Tarcísio José Martins, Quilombo do Campo Grande, História de Minas que se Devolve ao Povo - Contagem: Santa Clara Editora. 2008, fls. 423 a 440).

Luiz Eduardo Vilela de Rezende, conhecido em Carmo da Cachoeira como o Dudu do seu Zé da Naninha, escrevendo sobre Fazenda das Abelhas recorre a fala do prof. Wanderley Ferreira de Resende quando cita o tropeiro Joaquim Fernandes Ribeiro de Rezende, casado em 27.4.1801, na capela de João Francisco do Onça, filial de São João del Rei com Jacinta Ponciana Branquinho, seus ancestrais.

Fazenda das Abelhas por Luiz Eduardo Vilela de Rezende

Foi em meados do século XVIII, que grandes fazendas se instalaram no interior de Minas Gerais. O interessado em explorar e dominar novas áreas fazia um pedido ao Governador da Capitania de Minas Gerais dizendo de seu interesse de exploração e cultivo. Em resposta, o governo concedia o pedido através de uma carta chamada de Carta de Sesmaria, mas com a condição de Sesmeiro ocupá-la e faze-la produzir.

Abaixo, encontramos um trecho de uma dessas cartas:
[...] porem que sera obrigado dentro em hú anno que se contará da data desta ademarcala judicialmente sendo para esse efeito notificados os vezinhos com quem partir para allegarem que for a bem da sua justiça e elle o será tão bem a povoar cultivar a dita meya legoa de terra ou parte della dentro em dous annos, e qual não comprehenderá ambas as margens de algum Rio Navegável porque neste cazo ficará d ehua, e outra banda delle a terra que baste para o uso publico dos passageiros, e de huma das bandas junto a margem do mesmo Rio se deixará livre meya legoa de terras para comodidade, publica e de quem arrendar a dita passajem como determina a nova ordem do dito Senhor [...] (AHU – cx.100 – doc.37 – A771 – fl3).
Para acatar este pedido, as grandes fazendas fundavam novas sedes nas periferias da sesmaria a fim de demarcar território e manter divisas. Assim aconteceu com a Fazenda Boa Vista e deste modo, seus herdeiros herdaram e fundaram:

Fazenda Taquaral (Alexandre Gomes Branquinho);
Fazenda do Ribeirão e do Prata – (José Justiniano Branquinho);
Fazenda Serrinha (Luiz Gonzaga Branquinho);
Fazenda Boa Vista (João Damasceno Branquinho) após divisão;
Fazenda das Abelhas (Jacinta Ponciana Branquinho).

Wanderley Ferreira de Resende em seu livro Carmo da Cachoeira - Origem e Desenvolvimento narra à história de Joaquim Fernandes Ribeiro de Rezende. Tropeiro vindo de imediações de São João Del Rei, mais precisamente Lagoa Dourada, que passando por esta região em terras de José Joaquim Gomes Branquinho, antigo dono da Fazenda Boa Vista conheceu Jacinta Ponciana Branquinho, uma das filhas do fazendeiro e que posteriormente veio a se casar.
Joaquim Fernandes vem de família tradicional, tronco importante da história de nosso país. Era irmão de Estevão Ribeiro de Rezende, (Marquês de Valença e posteriormente Juiz de Fora em São Paulo). Era tio de Estevão Ribeiro de Souza Rezende, (Barão de Rezende). Sobrinho de José de Rezende Costa (Capitão de Auxiliares na Inconfidência Mineira em 1792) Primo de José de Rezende Costa Filho (Administrador da Fábrica de lapidação de Diamantes, Contador Geral do Erário e Escrivão da Mesa do Tesouro).

Em 27 de Abril de 1801 na capela de João Francisco do Onça, filial de São João Del - Rei Jacinta Ponciana Branquinho e Joaquim Fernandes Ribeiro de Rezende casaram-se e fundaram assim a Fazenda das Abelhas. Tiveram oito filhos: José Celestino, Geraldo Saturnino, Candido, Antônio Abdenago, Maria Francisca, Ana Esmênia, Severino e João.

Alguns livros de atas e outros documentos que datam de 1833 e anos posteriores relatam as eleições para Juízes de Paz na Fazenda Boa Vista, período em que ela ainda era Distrito.

A primeira eleição, datada em 9 de junho de 1833 foi feita na Matriz de Lavras do Funil, Comarca do Rio das Mortes, tendo sido eleitos o Capitão João Damasceno Gomes Branquinho, residente na Boa Vista, o Capitão Joaquim Fernandes Ribeiro de Rezende, da Fazenda das Abelhas e o Alferes Luiz Gonzaga Branquinho, da Fazenda da Serrinha. A segunda datada em 7 de Setembro de 1836, foi realizada na casa de residência do Juiz de Paz suplente, Martinho Dias de Gouveia (Fazenda do Rancho), sendo eleito o mesmo Martinho Dias de Gouveia, Joaquim Fernandes Ribeiro de Rezende e João Damasceno Gomes Branquinho. As eleições seguiram por mais dois anos, segundo o que consta no livro, mas o fato de mencionar este acontecimento é apresentar a importância e a influência que o Joaquim Fernandes, exercia sobre o distrito naquela época e que segundo os documentos, era titulado Capitão.

Jacinta faleceu na fazenda das Abelhas em Junho de 1840 e Inventariada em 1842 pelo viúvo, o Capitão Joaquim Fernandes. Deixou em seu testamento a Fazenda “das Abelhas” avaliada em 16:000$000; Terreiro da Fazenda, avaliado em 1:600$000; Morada de Casas no Arraial de Três Corações do Rio Verde avaliada em 100$000; e parte das casas no Arraial de São Tome das Letras avaliada em 10$000;
MONTE MOR: 39.381.989

Capitão Joaquim Fernandes faleceu cerca de 1842. O casal foi sepultado na Matriz de Três Corações.

Descendência de Joaquim Fernandes Ribeiro de Rezende e Jacinta Ponciana Branquinho:

José Celestino de Rezende

José Celestino nasceu na Fazenda das Abelhas em 02 de Fevereiro de 1802 e batizado e no dia 25 do mesmo mês e ano na Ermida das Cachoeiras. Em 1820 mudou para Boa Esperança onde casou com Carlota Joaquina Villela, filha de Antonio Joaquim Villela e Ana Felizarda Leite de Barros. Geração de dez filhos dentre eles Francisco de Paula Rezende (Avô de Wanderley Ferreira de Rezende) e Major José Vilela de Rezende.

Geraldo Saturnino de Rezende

Geraldo casou com Maria Ângela Gonçalves e faleceu aos 16 de fevereiro de 1856 na Fazenda das Abelhas e pede para ser sepultado junto a seus pais na Matriz de Três Corações. Com testamento e sem descendentes, institui por herdeiros de sua terça as duas expostas e afilhadas Maria Francelina de Rezende e Ana Emídia de Rezende.

Cândido Teodoro de Rezende

Candido nasceu em 1806, era solteiro e demente.

Antonio Abdenago de Resende

Antônio nasceu em 18 de Fevereiro de 1808, e em 1831 requereu dispensa para se casar com Porcina Cândida de Figueiredo, filha de Antonio Alves de Figueiredo e Cândida Nicésia Branquinho. Residiu na fazenda Lagoinha, em Dores da Boa Esperança. Mais tarde encontramos descendentes do casal novamente em Carmo da Cachoeira, dentre eles Joaquim Pedro de Rezende (Tio Neném), seu irmão Antônio Augusto (Toniquinho).

Maria Francelina de Rezende

Maria casou com Rafael dos Reis e Silva, filho de Manoel dos Reis e Silva e Mariana Villela. Morou na Fazenda Campo Limpo em Três Corações.

Ana Emídia de Rezende

Ana Emídia casou com seu tio Alexandre Gomes Branquinho e residiu na Fazenda Taquaral

João Ribeiro de Rezende

João casou com Maria Jesuína Villela, filha de Antonio Joaquim Villela e Ana Felizarda Leite de Barros. João faleceu em 1862 com 22 anos.

Severino Ribeiro de Rezende

Severino nasceu em 08 de Agosto de 1820. Casou em 20 de Fevereiro de 1841 com Inácia Leopoldina da Costa.
Inácia faleceu na Fazenda das Abelhas aos 02 de junho de 1862. Enviuvando, Severino Ribeiro de Rezende casou em 2ª vez com sua sobrinha Jacinta Ponciana Branquinho, filha do seu irmão, o Capitão Antônio Abdenago de Rezende.

Segundo a tradição, Severino Ribeiro de Rezende, foi quem herdou a sede da fazenda.

Pessoa ilustre e grande devoto da Virgem do Carmo, Severino fez parte do Conselho Paroquial local no ano de 1867 e entre os anos de 1873 e 1875 foi diretor de obras na reforma e ampliação da primeira Igreja, paroquiato do Revmos. Padre Joaquim Antônio de Rezende e Cônego Augusto Leão Quartim. Fatos que mostram o empenho de Severino visando à prosperidade do Distrito.

Descendência de Severino Ribeiro de Rezende

1 Jacinta Leopoldina de Resende casou com Theodoro Antonio Naves.
2 Maria Severina de Resende casada com Maximiano Severo do Lago Silva
3 Ana Cândida de Resende casada com Joaquim de Resende Branquinho.
4 Inácia Constança de Resende, casada com João Antônio Naves.
5 Marianna Leopoldina de Resende Foi batizada aos 18-08-1850. Marianna casou com Joaquim Pedro de Rezende.
6 Cândida Leopoldina de Rezende casou com José Alves de Figueiredo
7 Mariana Leopoldina de Rezende casou com Severino Ribeiro Rezende Sobrinho.
8 Severina Ribeiro de Rezende casou com José Alves de Rezende
9 Porcina Leopoldina de Rezende casou com Gregório Alves de Figueiredo.

Filhos do Segundo casamento:
10 Antônio Antero de Rezende
11 Joaquim Fernandes de Rezende casou com Maria Cândida de Rezende
12 João Candido de Rezende casou com Maria Vitória Chaves e em 2ª núpcias com Maria Leontina de Figueiredo
13 Josefina casou com João Vilela de Figueiredo Chaves

Em 10 de julho de 1878 o viúvo Severino pede autorização para vender parte da Fazenda das Abelhas a seus genros - Joaquim de Resende Branquinho, Teodoro Antonio Naves, João Antonio Naves, Jose Alves de Figueiredo Primo, e Gregório Alves de Figueiredo, sendo que a mulher do suplicante e os herdeiros que não entraram nesta compra desejam que assim se faça.

Em 10 de Dezembro de 1887 é feito um Formal de Partilha sobre os bens de Mariana Leopoldina de Rezende e seu finado marido Joaquim Pedro de Rezende onde foram avaliados os imóveis:

A casa de vivenda da Fazenda das Abelhas com paiol, monjolo, senzala, varanda, coberta para carro e todas as demais benfeitorias avaliado 600$000.
Parte na casa de vivenda da freguesia de Carmo da Cachoeira: 425$000
As terras da Fazenda das Abelhas composta de campos e culturas 4:200$000

A Antiga sede da Fazenda das Abelhas foi demolida na segunda metade do século XX, mas mesmo sem sede e subdividida em varias outras fazendas, seus descendentes não perderam a essência de que Abelhas simbolizam a União e Cooperativismo. E o que vemos quando passamos por aquela região onde são promovidas festas em favor da Igreja e à Comunidade São João Batista.

Fotos da Fazenda Urtiga

fotos de Evando Pazini
Residência Urbana da Fazenda da Urtiga

 O que temos ainda como recordação da arquitetura de taipa, forma de construção comumente utilizada pelos paulistas, está na Fazenda Urtiga. Em alguns pontos, o prédio lá existente nos revela a forma estrutural deste tipo de construção. A taipa-de-pilão vive na memória dos antigos moradores cachoeirenses, que contam em detalhe a forma como ela era feita.






A belíssima árvore fica na estrada que liga Carmo da Cachoeira ao seu Distrito - Palmital do Cervo e marca a entrada de acesso da centenária fazenda Urtiga. A antiga sede da fazenda, construída com a técnica taipa de pilão está ruindo. Incrustada e escondida aos pés do morro, segundo a tradição, foi ocupada por antigos inconfidentes, a semelhança da casa sede da fazenda das Abelhas, de Joaquim Fernandes Ribeiro de Rezende, casado com dona Jacinta Ponciana Branquinho (século XVIII), hoje demolida. O pessoal das Abelhas se referem a fazenda Urtiga, como sendo tão antiga como a que lhes pertenceram, no entanto, ela não consta da relação do juiz de Paz Rafael dos Reis Silva, no ano de 1842 e publicada pelo professor Wanderley Ferreira de Resende (Rezende) em Carmo da Cachoeira - Origem e Desenvolvimento.











Comentários

Mais lidas no site

Tabela Cronológica 10 - Carmo da Cachoeira

Tabela 10 - de 1800 até o Reino Unido - 1815 - Elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves - 1815 ü 30/Jan – capitão Manuel de Jesus Pereira foi nomeado comandante da Cia. de Ordenanças da ermida de Campo Lindo; e ü instalada a vila de Jacuí . 1816 1816-1826 – Reinado de Dom João VI – após a Independência em 1822, D. João VI assumiu a qualidade e dignidade de imperador titular do Brasil de jure , abdicando simultaneamente dessa coroa para seu filho Dom Pedro I . ü Miguel Antônio Rates disse que pretendia se mudar para a paragem do Mandu . 1817 17/Dez – Antônio Dias de Gouveia deixou viúva Ana Teresa de Jesus . A família foi convocada por peritos para a divisão dos bens, feita e assinada na paragem da Ponte Falsa . 1818 ü Fazendeiros sul-mineiros requereram a licença para implementação da “ Estrada do Picu ”, atravessando a serra da Mantiqueira e encontrando-se com a que vinha da Província de São Paulo pelo vale do Paraíba em direção ao Rio de Janeiro, na alt...

A organização do quilombo.

O quilombo funcionava de maneira organizada, suas leis eram severas e os atos mais sérios eram julgados na Aldeia de Sant’Anna pelos religiosos. O trabalho era repartido com igualdade entre os membros do quilombo, e de acordo com as qualidades de que eram dotados, “... os habitantes eram divididos e subdivididos em classes... assim havia os excursionistas ou exploradores; os negociantes, exportadores e importadores; os caçadores e magarefes; os campeiro s ou criadores; os que cuidavam dos engenhos, o fabrico do açúcar, aguardente, azeite, farinha; e os agricultores ou trabalhadores de roça propriamente ditos...” T odos deviam obediência irrestrita a Ambrósio. O casamento era geral e obrigatório na idade apropriada. A religião era a católica e os quilombolas, “...Todas as manhãs, ao romper o dia, os quilombolas iam rezar, na igreja da frente, a de perto do portão, por que a outra, como sendo a matriz, era destinada ás grandes festas, e ninguém podia sair para o trabalho antes de cump...

A família do Pe. Manoel Francisco Maciel em Minas.

A jude-nos a contar a história de Carmo da Cachoeira. Aproveite o espaço " comentários " para relatar algo sobre esta foto, histórias, fatos e curiosidades. Assim como casos, fatos e dados históricos referentes a nossa cidade e região. Próxima imagem: Sete de Setembro em Carmo da Cachoeira em 1977. Imagem anterior: Uma antiga família de Carmo da Cachoeira.

Mais lidas nos últimos 30 dias

Natal, memória e partilha em Carmo da Cachoeira

Talvez uma das coisas de que a professora Leonor Rizzi mais gostasse em Carmo da Cachoeira fossem as festividades cristãs . Via nelas não apenas a beleza dos ritos, mas, sobretudo, o protagonismo e a visibilidade que conferiam às pessoas da comunidade, tantas vezes deixadas à margem da memória histórica e cultural. Graças à homenagem póstuma oferecida pela Câmara Municipal a Dona Leonor, por iniciativa da vereadora Maria Beatriz Reis Mendes (Bia), revisitei a cidade. Confesso que a primeira parada no “ Estação Café com Arte ”, no Bairro da Estação , indicada pela própria vereadora, teve algo de peregrinação afetiva: eu caminhava pelos espaços tentando adivinhar o que, ali, chamaria mais a atenção de Leonor. Foi então que encontrei algo que, tenho certeza, a encantaria: a confecção artesanal do frontão do palco do Auto de Natal deste ano. Naquele trabalho paciente das mãos, na madeira, na tinta e nos detalhes, reconheci o mesmo espírito que atravessava os textos que ela escreveu, n...

Carmo da Cachoeira: o centro cultural Café Estação com Arte

O Bairro da Estação que a Profª Leonor sonhou Hoje, quem chega ao bairro da Estação, em Carmo da Cachoeira , encontra um espaço acolhedor: as antigas ruínas da ferrovia se transformaram em um pequeno centro de cultura e turismo em torno do “ Estação Café com Arte ” . Onde antes havia paredes caindo e abandono, há agora um lugar vivo, que recebe visitantes, conversa com a memória e faz a paisagem respirar de outro modo. Este texto nasce justamente desse contraste: da lembrança de uma Estação em ruínas à experiência recente de rever o local totalmente recuperado, por ocasião da homenagem prestada à professora Leonor Rizzi pela Câmara Municipal , por iniciativa da vereadora cachoeirense Maria Beatriz Reis Mendes (Bia) . A impressão é imediata: poucas coisas a alegrariam tanto quanto ver esse lugar, que a marcou pela ruína, renascer como polo de cultura. Foto original recuperada por IA de Evando Pazzini Para compreender o significado disso, recorremos aos próprios textos de Leonor sobr...

Carmo da Cachoeira – de 1815 até 1821

Publicada em 15 de fevereiro de 2008 pela professora Leonor Rizzi , esta tabela acompanha um período curto em anos, mas denso em mudanças: é o momento em que o Brasil deixa de ser apenas colônia para integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815), vê a circulação do café avançar sobre Minas, assiste à transformação de capitanias em províncias e presencia o retorno da Corte a Lisboa. Enquanto os livros de história contam esse processo em linhas gerais, aqui o movimento é visto através de lupa: nomes de fazendas, vilas recém-instaladas, estradas requisitadas, inventários, listas de moradores e decisões administrativas que moldam o sul de Minas. Talvez por isso esta tenha se tornado, ao longo dos anos, a tabela mais procurada no site, foram 66.800 acessos: nela se cruzam a visão macro da política imperial e os detalhes concretos de lugares como Campo Lindo , Ponte Falsa , Serra do Carmo da Cachoeira , Varginha ainda chamada Espírito Santo das Catanduvas . O que em manuais ...

Carmo da Cachoeira de 1800 até 1814

Carmo da Cachoeire: Leonor Rizzi e o poder do conhecimento histórico local Publicado neste site em 5 de fevereiro de 2009, o quadro intitulado “ Tabela Cronológica 9 – de 1800 até o Reino Unido ” , elaborado pela professora Leonor Rizzi , é mais do que uma sequência de datas: é um exercício de reconstrução paciente da história local a partir de vestígios dispersos. Em vez de olhar apenas para o “grande cenário” do Império português e das transformações políticas do início do século XIX, a autora acompanha, em detalhe, o que se passava na região que hoje reconhecemos como Carmo da Cachoeira : fazendas que se consolidam, capelas que se erguem, famílias que se fixam, instituições que se organizam. Esse tipo de pesquisa minuciosa, ancorada em registros paroquiais, inventários, sesmarias e documentação administrativa, devolve à comunidade algo que costuma ser monopolizado pelos manuais escolares: o direito de se reconhecer como sujeito da própria história. Ao relacionar acontecimentos lo...

Leonor Rizzi: O Legado do Projeto Partilha

Um Resgate da Memória de Carmo da Cachoeira A história de um povo é construída não apenas por grandes eventos, mas pelo cotidiano, pela fé e pelo esforço de seus antepassados. Em Carmo da Cachoeira , essa máxima foi levada a sério através de uma iniciativa exemplar de preservação e descoberta: o Projeto Partilha . Liderado pela Profª Leonor Rizzi , o projeto destacou-se pelo rigor acadêmico e pela paixão histórica. O intuito era pesquisar a fundo a origem de Carmo da Cachoeira, indo além do óbvio. A investigação buscou a documentação mais longínqua em fontes primárias, estendendo-se desde arquivos em Portugal até registros no Brasil, mantendo contato constante com pesquisadores de centros históricos como Porto , Mariana , Ouro Preto e São Paulo . A metodologia do projeto foi abrangente. Além da consulta a documentos genealógicos digitais, houve um trabalho minucioso nos Livros de Diversas Paróquias e Dioceses . Neste ponto, a colaboração eclesiástica foi fundamental: o clero da Paróq...

Mais Lidas nos Últimos Dias

Natal, memória e partilha em Carmo da Cachoeira

Talvez uma das coisas de que a professora Leonor Rizzi mais gostasse em Carmo da Cachoeira fossem as festividades cristãs . Via nelas não apenas a beleza dos ritos, mas, sobretudo, o protagonismo e a visibilidade que conferiam às pessoas da comunidade, tantas vezes deixadas à margem da memória histórica e cultural. Graças à homenagem póstuma oferecida pela Câmara Municipal a Dona Leonor, por iniciativa da vereadora Maria Beatriz Reis Mendes (Bia), revisitei a cidade. Confesso que a primeira parada no “ Estação Café com Arte ”, no Bairro da Estação , indicada pela própria vereadora, teve algo de peregrinação afetiva: eu caminhava pelos espaços tentando adivinhar o que, ali, chamaria mais a atenção de Leonor. Foi então que encontrei algo que, tenho certeza, a encantaria: a confecção artesanal do frontão do palco do Auto de Natal deste ano. Naquele trabalho paciente das mãos, na madeira, na tinta e nos detalhes, reconheci o mesmo espírito que atravessava os textos que ela escreveu, n...

Carmo da Cachoeira: o centro cultural Café Estação com Arte

O Bairro da Estação que a Profª Leonor sonhou Hoje, quem chega ao bairro da Estação, em Carmo da Cachoeira , encontra um espaço acolhedor: as antigas ruínas da ferrovia se transformaram em um pequeno centro de cultura e turismo em torno do “ Estação Café com Arte ” . Onde antes havia paredes caindo e abandono, há agora um lugar vivo, que recebe visitantes, conversa com a memória e faz a paisagem respirar de outro modo. Este texto nasce justamente desse contraste: da lembrança de uma Estação em ruínas à experiência recente de rever o local totalmente recuperado, por ocasião da homenagem prestada à professora Leonor Rizzi pela Câmara Municipal , por iniciativa da vereadora cachoeirense Maria Beatriz Reis Mendes (Bia) . A impressão é imediata: poucas coisas a alegrariam tanto quanto ver esse lugar, que a marcou pela ruína, renascer como polo de cultura. Foto original recuperada por IA de Evando Pazzini Para compreender o significado disso, recorremos aos próprios textos de Leonor sobr...

Carmo da Cachoeira – de 1815 até 1821

Publicada em 15 de fevereiro de 2008 pela professora Leonor Rizzi , esta tabela acompanha um período curto em anos, mas denso em mudanças: é o momento em que o Brasil deixa de ser apenas colônia para integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815), vê a circulação do café avançar sobre Minas, assiste à transformação de capitanias em províncias e presencia o retorno da Corte a Lisboa. Enquanto os livros de história contam esse processo em linhas gerais, aqui o movimento é visto através de lupa: nomes de fazendas, vilas recém-instaladas, estradas requisitadas, inventários, listas de moradores e decisões administrativas que moldam o sul de Minas. Talvez por isso esta tenha se tornado, ao longo dos anos, a tabela mais procurada no site, foram 66.800 acessos: nela se cruzam a visão macro da política imperial e os detalhes concretos de lugares como Campo Lindo , Ponte Falsa , Serra do Carmo da Cachoeira , Varginha ainda chamada Espírito Santo das Catanduvas . O que em manuais ...