Pular para o conteúdo principal

A Boa Vista de Carmo da Cachoeira.

O topônimo “Paragem do Ribeirão da Boa Vista”, expressão que compõe o título do Livro¹ de Mourão publicado em 2007, sobre a história de Carmo da Cachoeira, nunca existiu no município. As expressões corretas são ”Paragem da Boa Vista” ou simplesmente “Boa Vista”. É dessa forma que os topônimos aparecem nos primeiros documentos oficiais, de que se tem notícia.

A expressão “Paragem da Boa Vista” aparece pela primeira vez na Carta de Sesmaria de João Dias de Gouveia, filho de Antonio Dias de Gouveia, concedida em 27 de junho de 1786, “na Paragem da Boa Vista, Freguesia de Lavras do Funil². Nessa sesmaria João Dias de Gouveia fundou a fazenda da Chamusca.

A expressão “Boa Vista”, por outro lado, aparece como referência na Carta de Sesmaria de José Joaquim Gomes Branquinho, concedida em 09 de julho de 1795, nas “Cabeceiras da Sesmaria Boa Vista³ . Nessa sesmaria, que se situava nas cabeceiras da sesmaria de João Dias de Gouveia, José Joaquim Gomes Branquinho fundou a Fazenda da Boa Vista, que passou a ser referência na região.

MOURÃO (2007) afirma, na página 111 de seu livro que, “Em 1758, Boa Vista foi citada pela primeira vez e o Padre Bento era figura máxima na paragem”. Faz esta firmação baseando-se em um registro do Arquivo Público Mineiro que ela transcreve, nos seguintes termos: “Na Paragem do Ribeirão da Boa Vista nas imediações entre o rio verde e Ingaí tem um padre Bento da Silva Ferreira”.

Só que a paragem citada não é a nossa Boa Vista e nem o padre é o nosso Padre Bento Ferreira. Senão vejamos:

1- A Paragem do Ribeirão da Boa Vista que a historiadora está se referindo, como sendo em Carmo da Cachoeira, na realidade se situa nas proximidades de Baependí e Cruzília. É lá que vamos encontrar outra fazenda Boa Vista, às margens de um ribeirão da Boa Vista afluente da margem esquerda do rio Ingaí, nas proximidades da fazenda do Narciso, no Caminho Velho. A nascente do tal Ribeirão da Boa Vista que não é o nosso, se situa no divisor águas dos rios Ingaí e Verde, estando, portanto, mais de acordo com a citação da historiadora: “...nas imediações entre o rio Verde e Ingaí...”

2- O padre Bento da Silva Ferreira que aparece na transcrição, não é o nosso padre Bento Ferreira, filho do Capitão Manoel Nogueira e Margarida Ferreira, 6 mas outro, que tem o sobrenome da Silva e que era filho do português Bento da Silva Ferreira e de Ana Maria de Jesus. Era ele que morava na tal Paragem do Ribeirão da Boa Vista e não o Padre Bento Ferreira, que sempre morou no Campo Belo.

Jorge Vilela BH 04/03/2008

1. 2007 -MARIA DA GRAÇA MENEZES MOURÃO - A Paragem do Ribeirão da Boa Vista e o Sítio da Cachoeira no Palmital do Cervo do Caminho Velho da Estrada Real nas origens de Carmo da Cachoeira.
2. APM, SC 234 – p. 180 v.
3. APM, SC 265 p. 64 v.
4. APM 1758 – SC 122:22
5. CARTA DO BRASIL – ESC 1:50.000 – 1975 – Folha SF-23-X-C-IV-1
6. MRSJDR, Inventário, 1784, Caixa 85, Padre Bento Ferreira/ T.
Edriana Aparecida Nolasco.

Comentários

Anônimo disse…
Costa Guimarães. Gratidão pela sua participação. Com sua autorização, pedimos licença para ouvir nosso mestre, Prof. Wanderley."Segundo tradição corrente entre os velhos cachoeirenses, Fernão Dias, na sua penetração em território mineiro, esteve durante algum tempo parado na Fazenda da Boa Vista (...). MAS NÃO CONFUNDAMOS ESTA BOA VISTA com aquela outra que, conforme o roteiro de Francisco Tavares de Brito, estava situada entre Pouso Alto e Caxambu."REZENDE, Wanderley Ferreira. Carmo da Cachoeira, Origem e Des. 2 edição. p.8 Belo Horizonte,MG.Imp.Oficial.
Anônimo disse…
Recorrendo ainda ao nosso mestre, Prof. Wanderley, p. 7, da mesma edição:"Não é tarefa muito fácil descobrir, no fundo de um passado às vezes obscuro, a origem de povoações que nasceram no interior do Brasil, sem que tivesse um cronista que deixasse escrita a história de seu nascimento(...)outras, nasceram de capelas erguidas nas fazendas antigas pelos seus proprietários, porém muitas outras apareceram, não se sabe como nem porquê."
Anônimo disse…
Prof. Wanderley, p.5.DUAS PALAVRAS (sobre esta edição - a segunda)Deixar para a posteridade, em livro, aquilo que, como me disse o Dr. Joaquim Fernandes de Vilhena Reis, EU SABIA, enquanto outros ignoravam.Entretanto, recebendo há pouco uma gentil oferta do ilustre atual Diretor da Imprensa Oficial de nosso Estado, Dr. Morvan A. Acayaba de Rezende, para impressão de uma nova edição mais desenvolvida de meu modesto trabalho."(...)Lacunas e imperfeições o leitor deverá desculpar, considerando que o autor não é e nunca foi homem de letra e apenas tem a seu favor a boa vontade."

Mais lidas no site

Tabela Cronológica 10 - Carmo da Cachoeira

Tabela 10 - de 1800 até o Reino Unido - 1815 - Elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves - 1815 ü 30/Jan – capitão Manuel de Jesus Pereira foi nomeado comandante da Cia. de Ordenanças da ermida de Campo Lindo; e ü instalada a vila de Jacuí . 1816 1816-1826 – Reinado de Dom João VI – após a Independência em 1822, D. João VI assumiu a qualidade e dignidade de imperador titular do Brasil de jure , abdicando simultaneamente dessa coroa para seu filho Dom Pedro I . ü Miguel Antônio Rates disse que pretendia se mudar para a paragem do Mandu . 1817 17/Dez – Antônio Dias de Gouveia deixou viúva Ana Teresa de Jesus . A família foi convocada por peritos para a divisão dos bens, feita e assinada na paragem da Ponte Falsa . 1818 ü Fazendeiros sul-mineiros requereram a licença para implementação da “ Estrada do Picu ”, atravessando a serra da Mantiqueira e encontrando-se com a que vinha da Província de São Paulo pelo vale do Paraíba em direção ao Rio de Janeiro, na alt...

A organização do quilombo.

O quilombo funcionava de maneira organizada, suas leis eram severas e os atos mais sérios eram julgados na Aldeia de Sant’Anna pelos religiosos. O trabalho era repartido com igualdade entre os membros do quilombo, e de acordo com as qualidades de que eram dotados, “... os habitantes eram divididos e subdivididos em classes... assim havia os excursionistas ou exploradores; os negociantes, exportadores e importadores; os caçadores e magarefes; os campeiro s ou criadores; os que cuidavam dos engenhos, o fabrico do açúcar, aguardente, azeite, farinha; e os agricultores ou trabalhadores de roça propriamente ditos...” T odos deviam obediência irrestrita a Ambrósio. O casamento era geral e obrigatório na idade apropriada. A religião era a católica e os quilombolas, “...Todas as manhãs, ao romper o dia, os quilombolas iam rezar, na igreja da frente, a de perto do portão, por que a outra, como sendo a matriz, era destinada ás grandes festas, e ninguém podia sair para o trabalho antes de cump...

A família do Pe. Manoel Francisco Maciel em Minas.

A jude-nos a contar a história de Carmo da Cachoeira. Aproveite o espaço " comentários " para relatar algo sobre esta foto, histórias, fatos e curiosidades. Assim como casos, fatos e dados históricos referentes a nossa cidade e região. Próxima imagem: Sete de Setembro em Carmo da Cachoeira em 1977. Imagem anterior: Uma antiga família de Carmo da Cachoeira.

Mais lidas nos últimos 30 dias

Natal, memória e partilha em Carmo da Cachoeira

Talvez uma das coisas de que a professora Leonor Rizzi mais gostasse em Carmo da Cachoeira fossem as festividades cristãs . Via nelas não apenas a beleza dos ritos, mas, sobretudo, o protagonismo e a visibilidade que conferiam às pessoas da comunidade, tantas vezes deixadas à margem da memória histórica e cultural. Graças à homenagem póstuma oferecida pela Câmara Municipal a Dona Leonor, por iniciativa da vereadora Maria Beatriz Reis Mendes (Bia), revisitei a cidade. Confesso que a primeira parada no “ Estação Café com Arte ”, no Bairro da Estação , indicada pela própria vereadora, teve algo de peregrinação afetiva: eu caminhava pelos espaços tentando adivinhar o que, ali, chamaria mais a atenção de Leonor. Foi então que encontrei algo que, tenho certeza, a encantaria: a confecção artesanal do frontão do palco do Auto de Natal deste ano. Naquele trabalho paciente das mãos, na madeira, na tinta e nos detalhes, reconheci o mesmo espírito que atravessava os textos que ela escreveu, n...

Carmo da Cachoeira: o centro cultural Café Estação com Arte

O Bairro da Estação que a Profª Leonor sonhou Hoje, quem chega ao bairro da Estação, em Carmo da Cachoeira , encontra um espaço acolhedor: as antigas ruínas da ferrovia se transformaram em um pequeno centro de cultura e turismo em torno do “ Estação Café com Arte ” . Onde antes havia paredes caindo e abandono, há agora um lugar vivo, que recebe visitantes, conversa com a memória e faz a paisagem respirar de outro modo. Este texto nasce justamente desse contraste: da lembrança de uma Estação em ruínas à experiência recente de rever o local totalmente recuperado, por ocasião da homenagem prestada à professora Leonor Rizzi pela Câmara Municipal , por iniciativa da vereadora cachoeirense Maria Beatriz Reis Mendes (Bia) . A impressão é imediata: poucas coisas a alegrariam tanto quanto ver esse lugar, que a marcou pela ruína, renascer como polo de cultura. Foto original recuperada por IA de Evando Pazzini Para compreender o significado disso, recorremos aos próprios textos de Leonor sobr...

Carmo da Cachoeira – de 1815 até 1821

Publicada em 15 de fevereiro de 2008 pela professora Leonor Rizzi , esta tabela acompanha um período curto em anos, mas denso em mudanças: é o momento em que o Brasil deixa de ser apenas colônia para integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815), vê a circulação do café avançar sobre Minas, assiste à transformação de capitanias em províncias e presencia o retorno da Corte a Lisboa. Enquanto os livros de história contam esse processo em linhas gerais, aqui o movimento é visto através de lupa: nomes de fazendas, vilas recém-instaladas, estradas requisitadas, inventários, listas de moradores e decisões administrativas que moldam o sul de Minas. Talvez por isso esta tenha se tornado, ao longo dos anos, a tabela mais procurada no site, foram 66.800 acessos: nela se cruzam a visão macro da política imperial e os detalhes concretos de lugares como Campo Lindo , Ponte Falsa , Serra do Carmo da Cachoeira , Varginha ainda chamada Espírito Santo das Catanduvas . O que em manuais ...

Carmo da Cachoeira de 1800 até 1814

Carmo da Cachoeire: Leonor Rizzi e o poder do conhecimento histórico local Publicado neste site em 5 de fevereiro de 2009, o quadro intitulado “ Tabela Cronológica 9 – de 1800 até o Reino Unido ” , elaborado pela professora Leonor Rizzi , é mais do que uma sequência de datas: é um exercício de reconstrução paciente da história local a partir de vestígios dispersos. Em vez de olhar apenas para o “grande cenário” do Império português e das transformações políticas do início do século XIX, a autora acompanha, em detalhe, o que se passava na região que hoje reconhecemos como Carmo da Cachoeira : fazendas que se consolidam, capelas que se erguem, famílias que se fixam, instituições que se organizam. Esse tipo de pesquisa minuciosa, ancorada em registros paroquiais, inventários, sesmarias e documentação administrativa, devolve à comunidade algo que costuma ser monopolizado pelos manuais escolares: o direito de se reconhecer como sujeito da própria história. Ao relacionar acontecimentos lo...

Leonor Rizzi: O Legado do Projeto Partilha

Um Resgate da Memória de Carmo da Cachoeira A história de um povo é construída não apenas por grandes eventos, mas pelo cotidiano, pela fé e pelo esforço de seus antepassados. Em Carmo da Cachoeira , essa máxima foi levada a sério através de uma iniciativa exemplar de preservação e descoberta: o Projeto Partilha . Liderado pela Profª Leonor Rizzi , o projeto destacou-se pelo rigor acadêmico e pela paixão histórica. O intuito era pesquisar a fundo a origem de Carmo da Cachoeira, indo além do óbvio. A investigação buscou a documentação mais longínqua em fontes primárias, estendendo-se desde arquivos em Portugal até registros no Brasil, mantendo contato constante com pesquisadores de centros históricos como Porto , Mariana , Ouro Preto e São Paulo . A metodologia do projeto foi abrangente. Além da consulta a documentos genealógicos digitais, houve um trabalho minucioso nos Livros de Diversas Paróquias e Dioceses . Neste ponto, a colaboração eclesiástica foi fundamental: o clero da Paróq...

Mais Lidas nos Últimos Dias

Natal, memória e partilha em Carmo da Cachoeira

Talvez uma das coisas de que a professora Leonor Rizzi mais gostasse em Carmo da Cachoeira fossem as festividades cristãs . Via nelas não apenas a beleza dos ritos, mas, sobretudo, o protagonismo e a visibilidade que conferiam às pessoas da comunidade, tantas vezes deixadas à margem da memória histórica e cultural. Graças à homenagem póstuma oferecida pela Câmara Municipal a Dona Leonor, por iniciativa da vereadora Maria Beatriz Reis Mendes (Bia), revisitei a cidade. Confesso que a primeira parada no “ Estação Café com Arte ”, no Bairro da Estação , indicada pela própria vereadora, teve algo de peregrinação afetiva: eu caminhava pelos espaços tentando adivinhar o que, ali, chamaria mais a atenção de Leonor. Foi então que encontrei algo que, tenho certeza, a encantaria: a confecção artesanal do frontão do palco do Auto de Natal deste ano. Naquele trabalho paciente das mãos, na madeira, na tinta e nos detalhes, reconheci o mesmo espírito que atravessava os textos que ela escreveu, n...

Carmo da Cachoeira: o centro cultural Café Estação com Arte

O Bairro da Estação que a Profª Leonor sonhou Hoje, quem chega ao bairro da Estação, em Carmo da Cachoeira , encontra um espaço acolhedor: as antigas ruínas da ferrovia se transformaram em um pequeno centro de cultura e turismo em torno do “ Estação Café com Arte ” . Onde antes havia paredes caindo e abandono, há agora um lugar vivo, que recebe visitantes, conversa com a memória e faz a paisagem respirar de outro modo. Este texto nasce justamente desse contraste: da lembrança de uma Estação em ruínas à experiência recente de rever o local totalmente recuperado, por ocasião da homenagem prestada à professora Leonor Rizzi pela Câmara Municipal , por iniciativa da vereadora cachoeirense Maria Beatriz Reis Mendes (Bia) . A impressão é imediata: poucas coisas a alegrariam tanto quanto ver esse lugar, que a marcou pela ruína, renascer como polo de cultura. Foto original recuperada por IA de Evando Pazzini Para compreender o significado disso, recorremos aos próprios textos de Leonor sobr...

Carmo da Cachoeira – de 1815 até 1821

Publicada em 15 de fevereiro de 2008 pela professora Leonor Rizzi , esta tabela acompanha um período curto em anos, mas denso em mudanças: é o momento em que o Brasil deixa de ser apenas colônia para integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815), vê a circulação do café avançar sobre Minas, assiste à transformação de capitanias em províncias e presencia o retorno da Corte a Lisboa. Enquanto os livros de história contam esse processo em linhas gerais, aqui o movimento é visto através de lupa: nomes de fazendas, vilas recém-instaladas, estradas requisitadas, inventários, listas de moradores e decisões administrativas que moldam o sul de Minas. Talvez por isso esta tenha se tornado, ao longo dos anos, a tabela mais procurada no site, foram 66.800 acessos: nela se cruzam a visão macro da política imperial e os detalhes concretos de lugares como Campo Lindo , Ponte Falsa , Serra do Carmo da Cachoeira , Varginha ainda chamada Espírito Santo das Catanduvas . O que em manuais ...