Essa noite tive um sonho que durou mais de uma hora. Sonhei com velhos amigos que do mundo foram embora. Quando eu fiz essa música, dessa turma toda que eu falei os nomes, todos já tinham morrido, mas ainda tem três pessoas vivas nessa música: o Caçamba, que eu vi a mãe dele lá; tem o Frota, que sou eu o cantador; e tem o Capunga que era o pai do Rodrigo, que era o menino que uma caminhonete matou ele aqui na cidade. Então o Capunga, o Caçamba e o Frota, estes estão vivos, já o Zico que cantava comigo, morreu também. O Nem Roberto era casado com a prima da minha esposa e morreu novo e lá atrás eu falo do João de Barro, Aduzio era um fazendeiro que tinha por aqui, e o Antonio Quita (Antoiquita). Sabe porque essa música tem esse título, Festa no Céu ? É por que não tem como uma pessoa viva conversar com uma pessoa morta, por isso que ela passou a se chamar Um Sonho , por que no sonho vale tudo e a gente passa a fazer coisas impossíveis, então essa música é uma coisa impossível, essa é um...
Talvez uma das coisas de que a professora Leonor Rizzi mais gostasse em Carmo da Cachoeira fossem as festividades cristãs . Via nelas não apenas a beleza dos ritos, mas, sobretudo, o protagonismo e a visibilidade que conferiam às pessoas da comunidade, tantas vezes deixadas à margem da memória histórica e cultural. Graças à homenagem póstuma oferecida pela Câmara Municipal a Dona Leonor, por iniciativa da vereadora Maria Beatriz Reis Mendes (Bia), revisitei a cidade. Confesso que a primeira parada no “ Estação Café com Arte ”, no Bairro da Estação , indicada pela própria vereadora, teve algo de peregrinação afetiva: eu caminhava pelos espaços tentando adivinhar o que, ali, chamaria mais a atenção de Leonor. Foi então que encontrei algo que, tenho certeza, a encantaria: a confecção artesanal do frontão do palco do Auto de Natal deste ano. Naquele trabalho paciente das mãos, na madeira, na tinta e nos detalhes, reconheci o mesmo espírito que atravessava os textos que ela escreveu, n...